A vida é a encruzilhada cardinal. As pessoas costumam pensar em suas próprias vidas como uma rosa dos ventos, em que qualquer um dos pontos cardeais pode ser o nosso norte. E o passado, o que vivemos, por onde andamos, é o que vai determinar para que ponto iremos. É dessa mistura, de onde vim, para onde irei, que trata “As quatro direções do céu”, montagem inédita, no Brasil, de “Die Vier Himmelsrichtungen”, do dramaturgo Roland Schimmelpfennig, autor contemporâneo alemão mais representado no mundo.
A dramaturgia, dirigida pelo gaúcho Camilo de Lélis, diretor que mais encenou textos alemães no Brasil, centra-se em encenar a resposta à ascensão do novo direito na Europa. No jogo das cenas, na personalidade dos personagens que retrata, sua obra é como o clarim que anuncia o que é importante. Seus anti-heróis são furtivos e sutis. O que prova é fazer com que a plateia resista através da observação, observar como o drama se desdobra gradualmente é o eixo construtor da peça.
“As quatro direções do céu” é uma fábula sobre a trajetória complementar, ao mesmo tempo cruzante e paralela, de quatro personagens. Esses personagens são metáforas dos estereótipos dos pontos cardeais, ao mesmo tempo em que os sentimentos do que é acidental se transforma no furtivo e na incapacidade de se perceber o futuro. Os quatro atores se movimentam em uma atuação em que as falas em jogral marcam os pontos em comum, o que torna a representação de todos muito equilibrada e eficiente.
O cenário, com base realista, assim como os figurinos, que remetem à profissão dos personagens (vidente, garçonete, palhaço e assaltante), vai também se utilizar de um ambiente um tanto nebuloso, constituído por fardos de latas de alumínio compactadas e diversas latas de alumínio espalhadas pelo palco. Com inspiração nos circos mambembes, há uma lona no palco, remetendo à arena e ao picadeiro.
É nesse movimento pendular – de apontar a bússola e aguardar a resposta -, que “As quatro direções do céu” é capaz de nos fazer entender a existência de um passado que não pode ser esquecido e, muito menos, alterado. Só existe futuro em quem enxerga o que os fatos acontecidos são capazes de influenciar o presente. Roland Schimmelpfennig encontra, em um texto vigoroso, na emocionante direção de Camilo de Lélis, o aviso acabado. Esse passado destrutivo não pode repetir-se.
Serviço:
Teatro Poeira
Sexta e sábado, às 21h
Domingo, às 19h