Sempre que queremos e vamos falar, raramente falamos o que queremos. A fala como discurso é sempre um jogo de gato e rato entre o que enunciamos e o que escondemos. E o jogo se aguça quando se explicita que o que será dito é desconhecido do interlocutor. Em “Aqui jaz Henry”, o homem que encontramos é um homem com uma missão “para lhe dizer algo que você ainda não conhece”.
Espetáculo-solo de Renato Wiemer, com direção artística de Clarissa Freire, figurinos de Cláudio Tovar e visagismo de Leopoldo Pacheco, a peça, do autor canadense Daniel MacIvor, é um exercício sobre grandes questões existenciais: vida, morte, amor, capital. Especialmente, tempo. Renato, com enorme talento, conduz a ação que se baseia na presença de uma plateia que aguarda um show.
MacIvor tem uma forma particular de escrita, uma dramaturgia não linear, meio “torta”, dissonante, mas que, no final, faz todo o sentido. Henry fala e se relaciona o tempo todo com a plateia. Quebrando a “quarta parede”, o espetáculo transporta o espectador para dentro da sua narrativa,” define Wiemer.
O personagem é um obsessivo, autoproclamado mentiroso inveterado, com brincadeiras truncadas, paradoxos, listas anotadas, teorias desconstruídas que se acumulam para serem, em seguida, descartadas. A performance de Wiemer é a correta medida para se expor o conflito principal: uma gangorra de sentimentos expostos e que o ator é capaz de conseguir que, do outro lado, no sobe e desce, a plateia esteja lá.
Serviço:
Teatro Cândido Mendes
Quartas e Quintas, às 20h
Fotos: Patricia Ribeiro