As frases populares sobre passado são muito sugestivas — “Recordar é viver” é a mais forte delas. E quando o passado ainda é presente, nos assombra, é preciso repensar as grandes alegorias. “Angels in America”, o díptico escrito por Tony Kushner no início dos anos 1990, reencenado pelo Armazém Companhia de Teatro.
A direção de Paulo Moraes considera “O Milênio se Aproxima” (parte 1) e “Perestroika” (parte 2) como duas peças autônomas, o que valoriza a dramaturgia fundamental para se reverenciar um dos mais importantes textos do teatro do século passado. Ao encenar de forma contemporânea, Paulo Moraes consegue fazer uma trajetória de força, que começa com um funeral e, após muitos atos sucessivos, visita o céu, lá em cima. O espectro da morte está quase sempre presente, emoldurado por discussões ontológicas realizadas em espirais vertiginosas de palavras.
“É uma peça especial, imensa, um mergulho no final do século XX, mas que, diante do colapso em que o mundo se encontra hoje, revela uma atualidade esmagadora. Há um sentido de devastação se alastrando por toda a peça, mas o resultado cênico é um movimento constante, personagens se fazendo vivos por estarem em movimento”, comenta o diretor Paulo de Moraes.
Ao reforçar com a iluminação e figurinos os elementos cênicos se tornam fundamentais para a compreensão. A plateia pode, então, ver os personagens que se debatem, entre altos e baixos, falem as palavras que traduzem a imaginação sem limites, raiva moral que vagueia longamente e atravessa todo o tempo os horrores que se anunciavam. É um campo da arte onde poucos dramaturgos e diretores ousaram pisar.
Serviço:
Teatro Firjan SESI, Centro
“Angels in America Parte 1: O Milênio se Aproxima” — quintas, às 19h, e sábados, às 16h.
“Angels in America Parte 2: Perestroika” — sextas e sábados, às 19h, e domingos, às 18h.