O amor que não quer dizer o nome: crime, pecado, tara, perversão, doença, sem-vergonhice, falta de caráter – de tudo, já se falou sobre homossexualismo masculino. Esquecem, porém, que vemos obras primas por conta desse olhar. David. Morte em Veneza, Robert Mapplethorpe. Alair, em cartaz no Teatro Ipanema, retrata essa paixão pelo corpo, esse desejo incontido de reproduzir o corpo perfeito de homens jovens em sua plenitude – essa capacidade de olhar o objeto de afeto, amar, sentir desejo, congelar e eternizar.
Alair, de Gustavo Pinheiro, com direção de César Augusto, apresenta Edwin Luisi interpretando, de forma contida, como era ser homossexual há 60, 40 anos… Conta a história do careta engenheiro ipanemense que escondia e, ao mesmo tempo, revelava sua pulsão pelos jovens que desfilavam ao balanço do mar. Tinha por hobby, paixão e modo de vida ficar flanando por Ipanema até o Leblon e convidar jovens com corpo escultural para serem fotografados como se fossem estátuas gregas.
“Uma coisa que me motivou foi poder dar mais visibilidade à obra do Alair. Ele é um fotógrafo respeitadíssimo em várias partes do mundo ocidental, mas acredito que poucos brasileiros o conhecem. Eu conhecia de nome, tinha visto algumas coisas, mas nunca essa obra monumental que ele tem. Então, assim como eu, que sou um artista e tenho pouco conhecimento sobre ele, imagino que o mesmo aconteça com a população em geral. E dar maior visibilidade a ele é enriquecer a nossa cultura.”, reflete Edwin Luisi.
A estrutura dramatúrgica se constrói em diálogos para que a plateia conviva com o pensamento de Alair (diários de suas viagens) e com a ação do fotógrafo. Na tela, projetam-se as imagens inspiradoras enquanto os jovens atores André Rosa e Raphael Sander simulam fisicamente as fotografias reais. É no jogo entre passado e presente, revelar e ficar na câmara escura que Alair é a prova de que o amor que não quer dizer o nome é apenas uma maneira de amar.
Serviço:
Teatro Ipanema
Sábados às 21h
Domingos e Segundas às 20h