Ah! Família é bom no porta-retratos! Não há quem não se queixe do grupo da família. E o tiozão Sukita? E a prima bolsomínia? E os conflitos centram-se sempre na mesma tecla. É o ambiente em que se disputam as coisas que valem a pena na vida: amor e dinheiro. É essa receita que só faz desandar, agravar e apimentar relacionamentos, que constitui a matéria-prima de “Agosto”, espetáculo premiadíssimo que volta ao cartaz.
Uma saga repleta e densamente planejada de um clã de Oklahoma, em um estado de colapso quase apocalíptico, é considerada um dos dez melhores espetáculos do século XXI. De humor feroz e mordaz, o texto de Tracy Letts, com direção e adaptação de André Paes Leme, é capaz de despertar ódio mortal, catarse, amor, pena e admiração.
O elenco estelar, talentoso, afinado, é formado por Guida Vianna, Letícia Isnard, Alexandre Dantas, Claudia Ventura, Claudio Mendes, Eliane Costa, Guilherme Siman, Isaac Bernat, Isabelle Dionísio, Julia Schaeffer e Marianna Mac Niven. Guida Vianna, premiadíssima, faz uma das maiores megeras do teatro contemporâneo: Violet Weston, drogada, violenta, má e perversa. Essa personagem, que encarna o pior da maternidade, duela com Bárbara (Leticia Isnard), sua filha, para dizimá-la.
“Agosto” é o teatro clássico, com um cenário onde se desenvolvem todas as ações, com personagens definidos dentro daquilo que devem significar. Ferocidade com humor é a fórmula mais difícil de se acertar. O câncer na boca de Violet é a brilhante metonímia de uma fala em decomposição, podre, que é a principal característica do personagem. Esse tenso equilíbrio entre o que imaginamos de amor materno e a maldade em estado bruto e total faz ainda de “Agosto” o melhor espetáculo da atualidade
Fotos: Claudia Ribeiro
Serviço:
Centro Cultural João Nogueira – Imperator
Sextas e sábados, às 20h
Domingo, às 19h