Novo ano. Todos nós queremos mudanças, coisas absolutamente incríveis que jamais aconteceram. Olhamo-nos no espelho e desejamos um novo corpo, um novo rosto. Ninguém é bonito o suficiente. E quando se abre o Facebook, então… Só gente linda, feliz, realizada, gente gostosa com amores avassaladores. Pois é, desse universo do padrão imposto, da necessidade de ser bonito é que trata “A vida sexual da mulher feia”, monólogo no qual Otávio Müller assina a direção.
Baseado no livro homônimo de Claudia Tajes, adaptação de Julia Spadaccini e supervisão de Amir Haddad, a peça conta a vida desastrada de Maricleide, sempre desprezada e abandonada por conta de sua crônica e acachapante feiura. Os diálogos de Maricleide com aqueles que reforçam a sua menos-valia são também interpretados por Otávio Müller, o que, além de dar uma agilidade ao texto, enfatiza as tiradas de humor.
“Na profissão de ator, tanto melhor quando mais se mostra a própria cara. Isso passa a verdade necessária à compreensão do personagem. Apesar da crítica aos padrões estabelecidos, o texto não é, de forma alguma, panfletário. Apenas mostra aquilo que todos queremos: um companheiro, uma relação afetiva”, diz Otávio Müller.
A encenação é corajosa e vai fundo em mostrar que as oposições não são necessariamente ruins. Um ator hetero travestido de mulher funciona pela força interpretativa. A feiura de Maricleide dá lugar à beleza de alma e a um grandioso espírito de renovação. Essa é a hora. Adeus velhos preconceitos, travas antigas, subserviência aos modelos impostos. Feliz Ano Novo!
Serviço
Teatro Clara Nunes
Quinta a sábado às 21h30
Domingo às 20h