O Brasil está vazio na tarde de domingo. Olha o sambão, aqui é o país do futebol. Dessa paixão é que se nutrem muitas relações, entre amigos torcedores do mesmo tipo ou até os oponentes. Pai e filho se espelham na metáfora do futebol — no significado da bola, na possibilidade de um sucesso. Há de se notar, porém, que os pais procuram, nos sonhos do filho, realizar o que não conseguiram. Esse é o tema de “Pão e Circo”.
Ainda que filmada na eficiente direção de Cavi Borges, toda a ação se desenrola em um limite imaginário de um palco; o limite do palco reencena o limite da vida cotidiana. O pai, a anterioridade, é alguém a se destruir, a se eliminar. O texto de “Pão e Circo”, autoria de Pedro Pinheiro e Leonardo Bruno, propõe-se a montar, em camadas, infância e maturidade, passado e presente, aquilo que constrói a identidade de um sujeito: como conseguir superar o pai.
Em cena, estão Pedro Monteiro (Edu), Gabriela Estêvão (narradora e juíza), Henrique Eduardo (jovem) e Osvaldo Mil (Júlio). A direção é de Isaac Bernat, que equilibra os atores entre os textos/cena de futebol e aquela do convívio afetivo da família.
Costuma-se dizer que os atores ingleses são excepcionais; aqui, no Brasil, podemos falar dos baianos. Mil faz uma interpretação emocionante e emocionada, praticamente sem sotaque, amorosa, com profunda tristeza. Sem nenhum exagero, fala, de peito aberto, de seus erros, suas falhas, o que só ressalta a capacidade de convencer a plateia de sua atuação.
A iluminação que joga para destacar qual o sentimento que está em destaque, assim como os sons do estádio, também emoldura a gangorra entre a emoção do futebol e o menino abandonado. Os estereótipos do futebol são pano de fundo para mostrar outro elemento, tão forte, presente e importante, mas negligenciado, o abandono paterno – coisa que nem pão, nem circo são capazes de superar.
Serviço:
de 20 de agosto e 3 de outubro, no Sympla.
Sextas, sábados e domingos, a partir das 18h.