Caba da Pesti. Paraíba. Isso é uma baianada. Assim são chamados os nordestinos pelo Sul Maravilha. Dois países que não se encontram, não se conhecem, não se reconhecem. Essa desidentidade é o mote da absolutamente genial “Invenção do Nordeste”, dramaturgia baseada na obra “A Invenção do Nordeste e Outras Artes”, do Professor Dr. Durval Muniz de Albuquerque, em cartaz no Mezanino do Sesc-Copacabana.
O Grupo Carmin, do Rio Grande do Norte, com mais de 10 anos de atuação, tem a rara coesão competente que faz do teatro uma manifestação artística extremamente prazerosa. São 3 atores em cena: Henrique Fontes, Mateus Cardoso e Robson Medeiros, que contam como os dois últimos são preparados para um teste de uma produção do Sul para fazerem o papel de Padim Ciço jovem. Dessa linha extremamente simples, é que Mateus e Robson usam voz, corpo para apontar a fragilidade/falsa do conceito sobre uma “cultura” nordestina.
Apoiados em um telão que funciona como vídeo, como teatro de sombras, a história tece em um crescendo de onde parte a visão equivocada. Por isso, os atores variam, com total maestria, os tons, os semitons, os gestos de mãos, as pernadas para ir mostrando, com leveza e humor, como essa visão limitada impede que o Nordeste possa ser Nordeste. Ao mesmo tempo histórico, social e antropológico, o texto aponta para a enorme dificuldade que os talentos artísticos possam ter lugar na cena nacional.
A direção de Quitéria Kelly é mais do que marcações de luz, saídas e entradas. Como artesã competente, Quitéria burila o talento dos três atores. Henrique vai no tom que o papel de diretor exige, sisudo e exigente, de quem tem uma missão a cumprir. Robson e Mateus se alternam com igual brilho para mostrar duas facetas da mesma moeda: os que vêm do Nordeste, sejam como atores, personagens, gente comum são mais do que uma reprodução de um folclore – são pura alegria e emoção que fazem a noite tornar-se inesquecível.
Serviço:
Domingo (13/06), às 19h
www.sympla.com.br