O diretor, produtor e roteirista Estevão Ciavatta está, mais uma vez, envolvido com um filme que tem estreita relação com a ecologia. Foi assim com as séries “Um pé de quê”, apresentada pela atriz Regina Casé, com quem está casado há 21 anos, e com “Amazônia S/A”, produção que levou Estevão e equipe a percorrerem mais de 10 mil quilômetros para mostrar ao público essa região do país ainda tão pouco conhecida.
No documentário “Fonte da Juventude”, a natureza é tema indireto, mas não menos importante: a biodiversidade do país é apontada como uma das soluções para conter, através de uma alimentação mais balanceada e um maior consumo de frutas, legumes e verduras, a epidemia de obesidade que está afetando, principalmente, as crianças. O filme, uma iniciativa dos Novos Urbanos, com direção e roteiro de Ciavatta, vai estrear nos cinemas dia 29 e ainda não tem data para ser exibido pelo canal GNT, mas já pode ser visto na plataforma digital VideoCamp (http://www.videocamp.com/pt/movies/fonte-da-juventude).
Pai dedicado ao filho Roque, de quatro anos, adotado por ele e Regina aos cinco meses, Ciavatta é daqueles autênticos e coerentes, que deixam se envolver totalmente pelo trabalho que fazem e por aquilo em que acreditam (ou seja, um pessoa feliz): finalizado o documentário, Estevão mudou a alimentação de toda a sua família. Aqui ele conta como foi movido pelas provocações desse documentário.
Foto: João Paulo
O sumiço de frutas, legumes e verduras da mesa do brasileiro, mostrado no seu documentário ‘Fonte da Juventude’, é um fenômeno dos grandes centros? As crianças brasileiras estão ficando obesas de uma maneira geral?
“A obesidade é uma epidemia mundial, no Brasil cresce em todas as classes – é uma coisa democrática. Na América Latina, cresce 7% ao ano”.
O que aprendeu de mais importante enquanto fazia esse filme?
“Aprendi que, para quem prioriza frutas, legumes e verduras, os excessos são perdoados. Pode comer chocolate ou tomar refrigerante, por exemplo, ou seja, pode usar droga, mas com moderação. A questão da obesidade é uma doença que não dói, é silenciosa, por isso mesmo, difícil de ser combatida. Os obesos têm mais prazer no comer do que os outros. Como com qualquer droga, têm picos de serotonina mais rápido”.
O que você imagina possa ser feito para melhorar a alimentação do brasileiro, levando-se em conta que frutas não são um alimento barato?
“No filme tem uma experiência que fizemos num supermercado em São Paulo, com uma família priorizando integrais e nem tanto os frios ou os ultraprocessados. A gente acompanhou essa compra e saiu bem mais barata. As periferias têm falta de acesso a alimentos saudáveis, isso, sim”.
Você chegou a mudar algo na sua alimentação por causa do filme? E na do Roque?
“Eu e minha família mudamos totalmente, e quem vê o filme vai aprender. Fiz, ainda, grandes mudanças de quantidade e na priorização dos vegetais. Não deixo de comer nada pelo prazer, mas passei a ter mais consciência e comedimento. Isso também está ligado à biodiversidade. Dá pra conhecer outros prazeres além do milho, soja e trigo, e ficar mais imune a doenças em geral”.
Você ficou completamente curado da queda de cavalo que sofreu, há nove anos?
“Tenho limitações de movimentos, como jogar bola ou correr rápido, apesar de fazer tudo. Ano que vem o acidente completa 10 anos, muita gente me pergunta sobre isso, vou até escrever um livro – na verdade, já comecei. Mas, hoje, me sinto mais legal do que eu era. Minha vida está muito melhor”.
De onde vem essa sua vontade de se conectar com a natureza, é uma coisa que já era estimulada na sua família?
“Tenho ligações com a natureza de infância, está no meu DNA mesmo. Pra você ter uma ideia, em 1982 ou 1983, ali pelos 14 anos, eu era diretor do comitê ecológico do grêmio da minha escola”.
A juventude eterna é uma ideia que te agrada?
“Não. Sou mais da turma do Nelson Rodrigues (‘Jovens, envelheçam’). mas acho que a vontade de viver e alegria dos jovens têm que conservar, o que não quer dizer viver sempre como jovem”.