Eleonora Santa Rosa é mineira, mas há quase dois anos só pensa no MAR. Ela chegou à cidade carioca para assumir a direção executiva do Museu de Arte do Rio, em meio à crise cultural do estado. Desde então, Eleonora (com 36 anos de carreira e 20 de experiência em gestão pública e tendo sido secretária de Cultura do estado de Minas Gerais) enfrenta, mas com estímulo, a peleja (que palavra ótima para este caso) de reposicionar o museu, expandindo a programação e seus espaços, ocupando os pilotis com mostras, reformando a biblioteca e assim vai: “O MAR é um tesouro incrustado na Praça Mauá. Só não vê quem não quer”, diz.
Nos últimos dois meses, a prefeitura bancou 70% do orçamento de R$ 1 milhão por mês, mas o contrato terminou em abril e foi prolongado até 28 de setembro. Uma nova prorrogação é negociada. No primeiro semestre de 2019, o museu recebeu 339.806 pessoas, número 28% superior ao mesmo período do ano passado.
Estamos falando com a rainha do MAR?
Na verdade, uma súdita. Tenho a honra e a alegria de estar à frente da gestão do museu há 1 ano e dez meses, promovendo uma ampla reformulação, reposicionamento e reconexão desse importante equipamento cultural. O MAR é um tesouro não só do cariocas mas também do Brasil. Museu único, por suas singularidades, expressas em seu processo de constituição, acervo e, sobretudo, por sua excepcional Escola do Olhar.
Qual o tamanho do seu amor à arte pra aceitar dirigir um museu no Rio atualmente?
Meu amor à arte é imenso e infinito. Não é possível fazer qualquer trabalho de profundidade e superação cotidiana de obstáculos, externos e internos, comuns a essa área, sem uma imensa dose de amor e comprometimento com a causa pública, no meu caso, com a gestão pública da cultura. É fundamental a profissionalização do campo cultural; sem competência, determinação, amor, dedicação, abnegação, insistência, pertinácia e impertinência, não se vai longe. É preciso acreditar, fazer, focar, planejar, ousar e, sobretudo, acreditar, no que se faz, na potência da cultura, da arte, na transformação, no desenvolvimento, na criação de novas possibilidades e realidades. País que não entende o significado de sua cultura, de sua arte, está fadado a uma posição subalterna, secundária, de menosprezo, tratado como vassalo de nações desenvolvidas.
E a importância do movimento “Juntos Somos +Rio” para os museus cariocas?
Fundamental! Precisamos disso, do espírito coletivo, colaborativo, solidário, afetivo, de afinidades, de somatório de esforços e de compreensão do momento que a cidade vive. A manifestação recente do movimento comprova a sintonia, a percepção, o entendimento da potência dos museus. Não se sai de um museu da mesma forma como se entrou. Museus como lugares de experiências únicas, de aprendizado, de troca, de saberes e fazeres, de geração de renda, de empregos, de oportunidades são fundamentais na cadeia de negócios de uma cidade como o Rio. Nesse sentido, o MAR e os demais museus têm importância estratégica.
O contrato com a Prefeitura terminou em abril e foi prolongado até setembro, com um aporte de R$ 1 milhão por mês. Se uma nova negociação de uma prorrogação do prazo não for aprovada, como fazer para manter o MAR? Qual o custo médio para manter o museu funcionando?
Esse é um fato real. O cenário atual envolve proposta da Prefeitura para a continuidade do contrato de gestão com a Organização Social (OS) que responde pela administração do MAR há seis anos. No entanto, os recursos previstos pela Municipalidade ainda não dão conta das despesas do museu: pessoal, energia, água, segurança e limpeza, que atingem algo entre R$1.050.000,00 a R$1.250.000,00 mês. Estas, em síntese, são as despesas custeadas pela Prefeitura. Importa ressaltar que todas as exposições, mostras, ações de extensão, de formação, publicações, shows, eventos, dentre outras, são por meio de captação de recursos, doações, vendas de produtos, receitas de bilheteria e aluguel de espaços. Em caso do término, a Prefeitura deverá abrir novo certame para escolha de uma nova OS, e a atual inicia um processo de desmobilização para a transferência da gestão.
Qual seria a alternativa e que medidas você pensa em tomar? O que fazer para o MAR continuar a toda?
Há uma série de pessoas atentas ao destino da instituição, para além da questão do responsável atual por sua gestão. Um dos maiores guardiões do MAR é seu Conselho, o CONMAR, que representa a sociedade civil e os colecionadores, que doaram, como patrimônio público, as 8 mil obras que integram o acervo de mais de 30 mil itens de valor inestimável do museu. Portanto, minha esperança, para além do trabalho que venho desenvolvendo ao lado de uma equipe técnica valorosa e dedicada, é que a cidade se mobilize para que o MAR pulse, vibre e expresse a nossa cultura e a nossa arte, cada vez mais, dando continuidade ao trabalho extraordinário que desenvolve em seus diversos setores.
O que tem de bacana para atrair o público ao museu?
Muitas atrações, do pilotis, hoje equipado com Internet, mesas, tomadas para carregadores, deck de madeira para brincadeiras e descanso, passando pelas exposições, pela biblioteca e centro de documentação, pela nova galeria, pela reserva técnica, pela cobertura, com a mais bela vista da baía de Guanabara, enfim, um programão para as famílias. Além disso, o MAR, por meio de sua Escola do Olhar, oferece uma série de cursos, visitas mediadas, oficinas e atividades para um arco estendido de público dos bebês aos vizinhos do museu. Um grande barato!
Qual o tom de um “Alô” ao governador, ao prefeito?
Caros prefeito e governador, o MAR é um patrimônio incrível da sociedade, do povo carioca, é um tesouro, é a casa do carioca, é um dos mais belos museus brasileiros, é uma realização e tanto, um motivo de orgulho, de satisfação, de alegria, é um ativo cultural da cidade, do Estado, importantíssimo para a identidade contemporânea do Rio, do Brasil e no mundo. Este é o Rio que tem futuro. Viva o MAR!
Bom saber que está de pé – e bem acalentado – esse equipamento, após o descalabro e irresponsabilidade dos gestores do nosso maior Museu (UFRJ), preocupados que estavam com outro tipo de militância.