Qual o laço, além da política e de serem citados na Operação Lava Jato, entre o presidente da Alerj Jorge Picciani, o prefeito do Rio Marcelo Crivella, o prefeito de Manaus Artur Virgílio Neto e o ministro-chefe da Casa Civil Eliseu Padilha? Todos estão com câncer de próstata, uma das doenças que mais atingem os homens brasileiros, e que, segundo o urologista Mauricio Rubinstein, pode ser agravada ou desencadeada pelo estresse – “privilégio” que não se restringe à classe dos políticos. Membro da Sociedade Brasileira de Urologia, o dr. Mauricio é um dos precursores da cirurgia robótica no Rio, procedimento que ele defende como um dos mais efetivos no combate ao câncer de próstata. Segundo ele, ainda veremos a cirurgia robótica ser feita à distância – um médico num país vai operar o paciente em outro, através dos comandos acionados para o robô.
Professor doutor em Medicina pela UERJ e Fellow em Laparoscopia Urológica e Cirurgia Robótica na Cleveland Clinic, nos EUA, Rubinstein participa, nesta quarta (09/05), do International Cleveland Clinic Urology Symposium, nos EUA, e, na sexta (12/05), já estará em Boston, para o Congresso Americano de Urologia.
O estresse é um dos fatores que contribuem para o câncer de próstata? Em meio à crise política no país, temos quatro políticos, pelo menos, com esse problema – o prefeito do Rio Marcelo Crivella; o de Manaus, Artur Virgílio Neto; o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha; e o presidente da ALERJ, Jorge Picciani – pressão e medo podem ser agravantes para a doença?
“O medo sempre acompanhou os homens no que diz respeito ao câncer de próstata. Em função de seu estigma social e de sua associação com a morte, o câncer é a doença que mais provoca medo nas pessoas. No momento de um diagnóstico oncológico, a percepção da finitude da vida torna-se presente e é muito comum que apareçam muitas dúvidas em torno da doença e de seu tratamento. Não há muitos fatores de risco relacionados ao câncer de próstata e isso faz com que a prevenção seja a grande arma no combate à doença”.
Segundo pesquisa do Ministério da Saúde e do Inca, pelo menos 26 mil homens terão câncer de próstata no Brasil em 2017. Isso está relacionado ao fato de adiarem os exames e o check-up anual, por exemplo?
“Na realidade, o aumento do diagnóstico de casos de câncer de próstata nos mostra um cenário onde um maior número de pacientes vem buscando a prevenção e, com isso, há um maior número de casos diagnosticados. O lado positivo dessa busca pela prevenção é que a maioria dos casos diagnosticados, cerca de 90%, são iniciais e passíveis de cura. A Sociedade Brasileira de Urologia sugere que todo homem faça a prevenção do câncer de próstata anualmente, depois dos 50 anos. Homens com história familiar da doença devem iniciar sua prevenção aos 45 anos”.
A tensão em que os brasileiros estão vivendo, diante das barbáries políticas e a crise econômica, pode afetar a saúde?
“Sim, a tensão política e econômica que os brasileiros estão vivenciando, pode afetar a saúde. Toda e qualquer situação de estresse é capaz de contribuir negativamente para a saúde física e mental. Por isso, é fundamental manter o foco numa rotina de hábitos saudáveis, com alimentação equilibrada e prática regular de exercícios físicos”.
O senhor é adepto da cirurgia robótica, ela é o futuro da cirurgia no câncer de próstata? As pessoas ainda veem o robô com reticências?
“A cirurgia robótica não mais é vista como futuro do tratamento do câncer de próstata, e sim, o presente. Cerca de 95% das cirurgias nos EUA para esse tipo de câncer são com o auxílio de um robô. No Brasil, já existem 25 unidades robóticas em seis estados (Rio, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Ceará e Minas Gerais). As unidades, em sua maioria, estão em hospitais privados, porém hospitais públicos de referência como o Inca e o Icesp já contam com essa tecnologia. O número de sistemas robóticos ainda é limitado, fazendo com que as pessoas ainda tenham dificuldade de acesso. Atualmente, as diversas publicações científicas atestam os bons resultados dos procedimentos robóticos, oferecendo à sociedade mais uma opção de tratamento”.
Durante muito tempo o câncer de próstata foi tabu para os homens e o exame de toque reforçava esse preconceito. O senhor acha que a postura das pessoas públicas, revelando que estão com a doença, ajuda a conscientizar os homens?
“Com certeza. O fato de as pessoas públicas falarem sobre o seu diagnóstico e tratamento ajuda os homens a entender que a doença pode acometer a qualquer um, e que todos nós devemos nos cuidar e ser submetidos aos exames de prevenção. A Sociedade Brasileira de Urologia, por diversas vezes, conseguiu o apoio de esportistas, atores, pessoas de destaque, que ajudaram a divulgar informações sobre o assunto”.
No caso do prefeito do Rio, Marcelo Crivella, os médicos indicaram a vigilância ativa? Como ela funciona? Quais são os outros tratamentos hoje disponíveis para o câncer de próstata?
“A vigilância ativa é um monitoramento do câncer de próstata por meio de exames periódicos (PSA e biopsia de próstata) e consultas para evitar ou postergar o máximo de tempo possível até um tratamento definitivo (cirurgia ou radioterapia). Estudos internacionais mostram que, atualmente, o método é usado em 20% a 30% dos casos da doença no mundo. Os tratamentos para o câncer de próstata mais utilizados nos dias de hoje são a cirurgia e a radioterapia. Novas modalidades estão surgindo como a terapia focal e novas medicações oncológicas. Essas novas terapias deverão passar por estudos de longo prazo a fim de demonstrar eficácia contra a doença”.