
Moacyr Luz (sentado, no centro) com a turma do Samba do Trabalhador, que lota o Renascença Clube há 17 anos /Foto: Divulgação
Os sambistas cariocas estão revoltados com o Renascença Clube, no Andaraí, tradicional endereço da cultura negra na cidade (desde 1951), e onde Moacyr Luz ocupa, às segundas, com o Samba do Trabalhador, há 17 anos. Por ali, são comuns as manifestações políticas ao fim dos eventos, mas o presidente do clube, Alexandre Luiz Xavier, divulgou nota, nessa terça (26/01), proibindo. Com a repercussão, voltou atrás e apagou os posts nas redes sociais do clube. Já era tarde, a Internet já era dona: “Temos 70 anos de resistência e foi o primeiro espaço criado por fundadores negros de classe média carioca, cansados de sofrer discriminação, para espaço de lazer e convivência. O clube reafirma seu compromisso de sociedade mais igualitária, em que pese livre a manifestação de pensamento, mas também temos uma posição suprapartidária”, diz o texto, que foi retirado das redes, ainda citando a proibição de manifestações políticas conforme o estatuto: “ART. 104 – é vedado ao clube promover em suas dependências qualquer manifestação de caráter político-partidário.”
Logo depois, o Samba do Trabalhador e Moacyr Luz publicaram uma nota: “O samba, em sua essência, sempre foi um ato de resistência. Um lugar onde aqueles que nunca tiveram voz passaram a poder se expressar através da arte. Por aqui, seremos sempre apreciadores incansáveis da liberdade de expressão, e contra qualquer tipo de censura”.
Para tentar apagar a cortina de fumaça, o clube publicou, nesta quarta (26/01), outro post divulgando um evento, mas os frequentadores e internautas invadiram o perfil com muitos comentários: “Não precisa nem fazer nota de esclarecimento sobre nota de esclarecimento porque a gente já tá ligado na posição da presidência do Rena. Não sei o que foi pior, o tal ‘fundada por negros de classe média’ ou dizer q lá não é um espaço político. O samba é um ato político, avisa aí pra direção e avisa que o ‘fora Bolsonaro’ será gritado em alto e bom som”, “não adianta apagar a nota vergonhosa e manter a mesma mentalidade tacanha. A diretoria se manifestou e apresentou o quão desassociados estão seus pensamentos dos princípios e ideais que sempre nortearam o Rena desde a sua criação. No meio do ano há eleições no clube para nova diretoria. Os sócios precisam escolher melhor. A posição da diretoria não resume o clube. O samba é luta e política, batalha que está longe do fim nesse país”, “já estou imaginando como será a resenha de hoje, com participações ‘importantíssimas’: no cavaco, Sergio Camargo (Fundação Palmares); no tantan, Regina Duarte; no pandeiro, Mário Frias; no vocal, o marreco Serginho, o tal ‘juiz imparcial’; e termos uma porta bandeira, a ‘maior sambista de todos os tempos’ : Micheque Bolsonaro”; “Ué! Não pode gritar ‘Fora Bolsonaro”? Já gritaram ‘Fora Dilma’ também e não teve caô. Democracia e resistência caíram por terra?” e assim vai.