Quando as instituições públicas são despedaçadas pela corrupção, ocorre na sociedade uma progressiva e avassaladora perda da confiança nos valores social-históricos. O nível de ansiedades se eleva na trama social, torna-se tóxico e, como consequência, aumenta a agressividade, a violência, o desespero, o desamparo e a insegurança. Todos são fatores bastante complexos em suas estruturas que formam um círculo vicioso, cujo diâmetro só tende a se ampliar, favorecendo, assim, as doenças mentais.
Nesse estado de coisas, a capacidade para investir nos mais diversos setores se torna inibida, atingindo o mercado de trabalho em suas bases mais sólidas. O resultado é o cruel desemprego, que prolifera de forma aviltante, simultaneamente com o crime, a drogadição, o desprezo cínico pelo significado da vida e pela sociedade organizada.
Com a tragédia instalada, aparecem discursos de golpe propondo estabelecer o estado de exceção e, com eles, surgem as propostas de regulamentação da violência e a suspensão dos direitos fundamentais como solução “natural” para a ordem democrática que “falhou” em defender as fragilidades humanas. Uma multidão se deprime envergonhada com a atitude dos políticos, que se tornam logicamente os culpados do que acontece; afinal, eles foram eleitos para representar os cidadãos na defesa da ordem democrática, e não para usá-la no atendimento de fins escusos particulares.
Em resumo, ansiedades primitivas crescem projetivamente na trama social e, para combatê-la,o uso de psicofármacos não dará conta disso. Só vai, com seu uso, acrescentar mais ilusão aos milhões de desiludidos. Uma das piores consequências dessas ansiedades crescentes é favorecer o oportunismo de personalidades autoritárias de qualquer ideologia. Os exemplos diários começam a ficar incontáveis e surgem de onde menos se espera.
Por exemplo, o presidente do STF, Dias Toffoli — em quem obviamente se confia a suprema defesa jurídica da democracia —, propõe o estado de exceção ao pretender assumir o papel de investigação que cabe ao Ministério Público. Ele, como juiz, pretende investigar, legislar e punir ao mesmo tempo? E tudo isso por causa das chamadas “fake news”! Todas elas inegavelmente expressando seletivamente a insatisfação pública com a performance “frouxa” do STF.
Muitos entendem que a instituição está aplicando um “golpe” na democracia. Os ministros do STF obviamente não são culpados das leis “frouxas” que existem e criam a sensação de impunidade. Por outro lado, fica a pergunta: por que não fazem nada para mudar aquilo com o que a maioria do País não concorda? Eu acredito que os ministros leiam os jornais e vejam reportagens na TV. Alguns são até afrontados publicamente. E se não são obviamente culpados, todos são responsáveis, em seus cargos, pelo aperfeiçoamento da Justiça.