Depois de mais de um ano de pandemia, uma coisa é certa: o relacionamento — saudável — do casal é mais do que essencial! Ainda continuamos tensos com tantas incertezas, ainda estamos nos adaptando a mudanças que nos foram impostas com uma velocidade jamais vista. Ainda estamos lidando com consequências de problemas novos, como home office, escola virtual e, em alguns casos, consequências do próprio vírus, seja através de perdas doloridas, seja de sequelas da própria doença.
Não foi um ano fácil pra ninguém. E dentro da solidão, que é passar pelo desconhecido, ter o apoio do seu amor é um privilégio que nem todos têm. Assistimos de camarote a inúmeras separações de famosos. Observamos ao nosso redor esse mesmo fenômeno que, por vezes, parecia se tratar de um efeito dominó. Um casal atrás do outro jogando a toalha e dando um fim numa luta que se tornou pesada demais.
No entanto, vimos também o extremo oposto: casais que se fortaleceram nestes momentos difíceis, casais que se encontram no meio desse furacão, casais que, neste Dia dos Namorados, tem muito, mas muito o que celebrar!
E olha que essa celebração saiu do âmbito da timidez e entra em primeiro plano com tudo! A venda de produtos eróticos disparou! Cursos com informações de como apimentar a relação foram altamente procurados. Entendemos que não aprendemos nem em casa, nem na escola, sobre nossa sexualidade. Que esta caixa — onde moram nossas dúvidas, nossos desejos, nossas fantasias, mesmo parecendo se tratar de uma caixa de pandora – precisa ser aberta, sim, precisa ser encarada sem medo, com um fim muito importante, o autoconhecimento, o descobrimento do nosso ser sexual.
É nítido que muitos saíram da passividade e entenderam, talvez pela primeira vez, que uma vida a dois também exige uma busca, não só para melhorar a situação, mas também para transcender o que antes se considerava até uma situação satisfatória.
Qualquer profissional da área (terapeuta, coach, psicólogo) que trabalha com casais vai confirmar que nunca viu o consultório — online — tão cheio. Nas mídias sociais, observamos pessoas que trabalham com essa temática, bombando; nunca se viu tamanha demanda por esse conteúdo. Com tantas notícias ruins, garanto que essa é boa demais.
Parece que dentro de um quadro tão difícil, muitas vezes tão dolorido, as pessoas finalmente entenderam que o prazer é direito da condição humana. Estamos largando essa mania, muito característica do brasileiro em específico, de justificar o prazer com o sacrifício. “Estou na praia, porque trabalhei a semana inteira!” Sempre quando nos referimos ao prazer, temos a necessidade de justificá-lo com o sacrifício, mania nada saudável, diga-se.
Entender que o prazer, além de direito, é uma necessidade sempre foi algo difícil de ultrapassar, mas parece que finalmente estamos acordando para a necessidade de incluir o prazer no equilíbrio necessário para atingirmos a tão sonhada qualidade de vida.
Diante de tantos problemas e dificuldades, parece uma vitória pequena, mas não é. Viver o prazer a dois, procurando soluções para questões íntimas, ou mesmo formas de aumentar essa intimidade, é uma vitória gigantesca para todos nós.
Como somos seres condicionados, ao naturalizar o direito ao prazer, ao correr atrás de informações, ensinamentos de como melhorar a relação íntima e emocional do casal, ajudamos a mudar prioridades, não somente as nossas como também de toda uma sociedade.
Os casais que conseguiram ultrapassar essa fase, e ainda fortalecer seu relacionamento, merecem todas as congratulações possíveis, e eles têm muito o que celebrar!
Então, neste Dia dos Namorados, se você é um dos sortudos que se encontram neste cenário, comemore bastante; se você foi um desses que correram atrás para melhorar e cuidar ainda mais da intimidade a dois, comemore mais ainda. Entenda, não estamos falando de uma vitória única – essa mudança na escala de valores do amor, no fim, vai ajudar a mudar toda a forma de nos relacionarmos e, pelo jeito, a pandemia ajudou a acelerar essa mudança, que me parece, começa agora!
Tatiana Presser é psicóloga e educadora sexual. Autora do livro “Vem Transar Comigo” (Rocco), que deu origem à peça “Vem transar com a gente”, encenada por ela e seu marido, o humorista Nizo Neto, sucesso nos palcos e no mercado literário. Também criou o método C.A.D., abreviação para conhecimento, atitude e desejo e sua relação com o prazer. Na pandemia, criou o curso gratuito “Virando a Cama do Avesso”, com aulas para potencializar o relacionamento em todos os sentidos.