O confinamento é uma das maiores dificuldades do ser humano, tanto que, como punição extrema, temos a cela solitária… Na quarentena atual, estamos distantes desse isolamento carcerário, pois temos várias tecnologias que nos conectam uns aos outros e às realidades externas. No entanto, o mundo está impedido do ir e vir e, se o faz, é sob o signo do medo.
Em experiências depois de alguns dias de confinamento deste modo que estamos tendo, as dinâmicas psicológicas da mente se fragilizam muito; por isso, é fundamental se preservar do contágio do coronavirus, mas protegendo-se dos sintomas emocionais que o confinamento traz. Neste momento, o saber traz a cada um condições de existir, neste contexto atual, com habilidade diferenciada.
Saber Ser é existir na concepção de nós, diante das geografias dessas novas horas; afinal, encontrar o caminho do meio é a melhor rota. É evitar trilhar a lateralidade da negação dos riscos atuais ou trilhar a outra lateralidade, a dos excessos do medo. É recorrer ao pensamento aristotélico que afirma o fundamental: transformar medo em ação.
Para evitar os três efeitos psicológicos negativos:
1 – Evitar a angústia causada pela incerteza do tempo de duração; para isso, é importante realizar que nenhum contexto é permanente. Tudo passa. E podemos atravessar esse fantasma. O destino impõe o drama, mas a tragédia pode ser evitada, sabendo construir a versão de si ideal para esse contexto.
2 – Sofrer por engessamento. Personalidade engessada é aquela inflexível à realidade. Uma pessoa elegante, sem dúvida, é a que sabe vestir-se, adequadamente, para cada contexto. Na vida, a elegância psicológica é saber vestir-se de traços adequados ao contexto atual. Qual a melhor versão para este momento? A de tirar partido do que dispõe — das coisas, das pessoas; assim, a falta não faz falta.
3 – A insegurança do pós-coronavírus. A história humana é feita de desconstruções e reconstruções, riscos e oportunidades, perdas e ganhos. Há sempre uma solução para quem sabe soltar o que deixou de existir, para ter mãos disponíveis livres para pegar o novo. Saber Ser a melhor versão de si para o atual contexto.
Manoel Thomaz Carneiro é psicanalista, psicofísico, autor do livro “Pense Bem” (Editora Leya) e fundador do grupo de estudos Pensar, que existe há 31 anos.