Responda rápido: quais são as fotos que mais te envergonham? Para as quais você olha e se pergunta “Onde é que eu estava com a cabeça?”
Não, não precisa responder; a pergunta é retórica. São aquelas em que você estava “na moda”. O que — dependendo da sua idade, sexo, poder aquisitivo e orientação sexual — significa estar com calça de nesga, sapato bicolor, mullet, pochete, ombreiras, camisa justa de manga curta e enrolada, colar de conchinha, brinco de pena, meia de lurex, costeleta na altura da mandíbula, batom verde e cinto de calhambeque. Se bobear, tudo isso junto.
A moda é isso: uma perda temporária do senso de ridículo. Uma alucinação passageira. Um momento de fraqueza. Sim, essas definições também servem para a paixão, mas não vamos misturar os canais.
Acho que foi o Steven Pinker quem escreveu sobre o nascimento e morte da moda. Ela começa quando algumas pessoas “antenadas”, “descoladas” sentem necessidade de se diferenciar do povão. Essa necessidade é atávica — afinal, ser uma pessoa “antenada” e “descolada” significa, necessariamente, ser também “diferenciada”. Então essas pessoas começam — digamos — a usar camisa roxa com bolinha amarela, abotoada nas costas (ou seja, vestida ao contrário).
A princípio, são poucas as que conseguem (é preciso ter alguém que abotoe, e não há, nas lojas, camisas roxas com bolinha amarela; então é necessário também mandar fazer com uma costureira de confiança, que não questione a necessidade de um colarinho frouxo daquele jeito). Essas pessoas causam estranheza, atraem atenção — alguém sugere que pendurem melancia no pescoço, mas para quê melancia no pescoço quando se tem um bolso na altura da omoplata?
Logo, elas se tornam o centro das atenções, por sua ousadia. Sua excentricidade. Sua coragem de [valei-me, Nossa Senhora dos Clichês!] quebrar paradigmas. E outros se animam a copiar. Poucos, a princípio. Logo, muitos — porque todo mundo quer ser diferente.
Não demora, o Mercadão de Madureira e a 25 de Março já estarão vendendo camisa lilás com triângulos laranja (cópia malfeita é uma tradição), e haverá uma multidão com camisa vestida ao contrário (e com o colarinho machucando o pescoço, porque cópia malfeita copia o supérfluo e ignora o essencial).
Todo mundo querendo ser diferente e, por isso, todo mundo igual.
É nesse momento que você tira a foto, feliz da vida. E é também nesse momento que, sem você saber, aquelas pessoas “antenadas” e “descoladas” já estão causando com o relógio no pescoço, a pulseira pendurada na orelha, o brinco no calcanhar e a aliança de casamento na… no… bem, você não vai querer saber onde estarão usando a aliança de casamento.
Quando algo começa a ficar na moda, isso significa que a Moda (com maiúscula) já deixou de cumprir seu papel de diferenciar e passou a uniformizar. Entrou na cadeia de consumo.
Vide tatuagem. Jeans destruído. Alça de sutiã aparecendo. Cueca aparecendo. Franja cortada de costas para o espelho, no escuro e com uma faca de pão.
Já dizia Carlos Drummond: “E como ficou chato ser moderno. Agora serei eterno”. Eternamente fora de moda. Assíncrono. Em sempiterna decalagem.
As fotos do tempo de cocota ou de biscoiteiro vão te fazer passar vergonha algum dia. Esse dia pode ser hoje, e você nem percebeu que estar na moda passa. Estar fora de moda é para sempre. Com a vantagem de te manter diferente de todo mundo, fora e acima da manada – e ainda poder renovar o guarda-roupa só de 20 em 20 anos.
Só espero que ficar fora de moda não vire moda. Porque aí eu estou lascado.