A Terra passou por várias grandes extinções. A maior de todas ocorreu no fim período Permiano, há cerca de 252 milhões de anos, e eliminou 95% das espécies marinhas. Oito milhões de anos antes, outra extinção em massa tinha marcado o período final da era Guadalupiana, com a dizimação de quase todas as formas de vida do planeta. Antes, já tinham acontecido a extinção que assinalou o fim do período Cambriano e a do Ordoviciano (eliminando trilobites, braquiópodes, crinoides e equinoides). Depois vieram a do Triássico-Jurássico (que exterminou cerca de 20% da fauna marinha) e a K-Pg, há 65 milhões de anos, provocada pelo choque de um meteoro, que levou ao desaparecimento de 60% das espécies — entre elas, a dos dinossauros.
A mais recente extinção em massa ocorreu nos anos 60 do século passado, quando pela última vez se teve notícia de uma sirigaita.
Em Viçosa, no interior de Minas, onde eu morava, havia muitas sirigaitas. Por motivos que não alcanço, elas só eram visíveis para as mulheres. Os homens as chamavam de brotos ou de “pequenas”, ainda que algumas fossem bem graúdas (ou sacudidas, como se dizia então).
As sirigaitas eram fogo na roupa, da pá virada, do balacobaco e do telecoteco. Para ser sirigaita tinha que ter ziriguidum.
É pena que tenham desaparecido, porque sempre me pareceram pessoas felizes, com uma autoestima do arco da velha, ostentando decotes de cair o queixo e quadris de parar o trânsito.
As sirigaitas só perdiam em quantidade — e em desprezo por parte das moças de família – para as biscas.
Não havia biscas más ou mais ou menos. Eram sempre boas biscas – ainda que só as mulheres se referissem a elas dessa forma. Para os homens, eram apenas boazudas. E, claro, prafrentex e papo firme.
Uma boa bisca era da fuzarca e, por onde passava, causava bafafá e provocava fuzuê.
Ao contrário das mães de família e das que ficavam para titia, as boas biscas não sabiam o que era estar na fossa. Na avaliação masculina, eram certinhas. Da pontinha. De lascar o cano.
A exemplo das sirigaitas, nenhuma boa bisca sobreviveu aos anos 60. E o mesmo triste fim teve outra espécie — que nunca foi uma coqueluche, mas tinha seu it. Eram as lambisgoias.
Se os dinossauros sucumbiram mas deixaram descendência na forma de galinhas, avestruzes e outras aves, a sirigaita legou seu DNA às periguetes e a boa bisca, às biscates. A lambisgoia, coitada, acabou de vez.
Era uma criatura meio desenxabida, macambúzia, merencória, jururu e borocochô. Se distinguia da boa bisca e da sirigaita por ser sem peito, sem bunda e sem graça. Por se fazer de sonsa, por ser insossa.
Uma sirigaita podia, dependendo do contexto, ser uma boa bisca. Por motivos ignorados, uma lambisgoia também podia ser uma boa bisca, mas jamais chegava a sirigaita. Faltava-lhe, sei lá, borogodó.
Um pouco mais tarde desapareceriam também as desquitadas – categoria formada (segundo as casadas e as casadoiras) de sirigaitas, boas biscas e lambisgoias, todas no mesmo balaio.
Pode ser que ressurjam algum dia, com seus seios arfantes, suas saias justas, seus lábios carnudos e cor de carmim, seus cabelos armados de laquê, seus sutiãs de bojo, seus olhos de ressaca, suas meias de náilon, seus casaquinhos de banlon.
Mas suspeito que, como os mamutes, trilobitas e pterossauros, elas nunca mais deem as caras entre nós.
Aliás, suspeito, não.
Duvi-de-o-dó.