Com a pandemia, a arte se revelou mais necessária do que nunca. Vamos ser sinceros: o que teria sido de nós sem as lives, sem as séries, sem as músicas?
Afetado diretamente pelas restrições de aglomeração, o setor cultural mostrou, mais uma vez, sua força ao se reinventar rapidamente, diante da demanda, que não parou de crescer. Através das lives — e da migração do business da venda de ingresso para a venda de publicidade —, artistas de diversos nichos continuaram em atividade com entrada de receita e manutenção do relacionamento com o público. Impossibilitados de fazer shows, mantiveram seus lançamentos fonográficos e até se aventuraram por novas empreitadas, como foi o caso do cantor Diogo Nogueira, que lançou um livro digital de receitas culinárias que chegou a ser finalista de um prêmio literário na França.
É verdade que artistas menores e/ou sem suporte de escritório ou gravadora tiveram mais dificuldade diante do cenário. Mas os que estavam preparados experimentaram, além da visibilidade, grande crescimento digital – visto que, no Brasil, em 2020, a receita de streaming (geradas por plataformas de consumo de música, como Spotify, Deezer etc.) cresceu 37,1%, com um aumento de 28,3% no número de assinantes, segundo o relatório do IFPI 2021.
Mas, e agora? Quais são as perspectivas para o mercado? Há condições para a retomada dos grandes eventos e aglomerações? É isso que governos, aqui e lá fora, querem descobrir o quanto antes. O estado de São Paulo, por exemplo, está promovendo uma série de eventos-teste presenciais, começando com a “Expo Retomada” em Santos, nesta quarta (21/07). Nesses eventos, os participantes deverão estar vacinados e usar máscara, além de passarem por testes rápidos para a Covid-19. Todos serão acompanhados posteriormente, para monitoração do contágio. Ao todo, serão realizados 14 eventos sociais (festas, jantares etc), 12 eventos de economia criativa (feiras, exposições e shows), 2 eventos esportivos (entre eles, o GP Brasil de Fórmula 1) e 2 eventos de negócios.
Em Nova York, a prefeitura providenciou um aplicativo que traz um comprovante virtual de que o portador está completamente vacinado, portanto apto a frequentar o evento – medida também adotada por Israel, que exige o documento digital até para a entrada em restaurantes.
Já a Nova Zelândia, que conseguiu controlar a disseminação da Covid-19 com fechamento de fronteiras, testagem em massa e isolamento social amplo, fez, em março, um show para 30 mil pessoas (sem máscaras), comemorando semanas sem um registro de infectados.
E a população, o que pensa? De acordo com um estudo da Hibou, empresa de pesquisa e monitoramento de mercado e consumo, no Brasil, 67% das pessoas voltariam a frequentar eventos fora de casa, apenas depois de serem vacinados. Do total de 1.726 entrevistados, 64% consideram que o entretenimento é essencial para suas vidas. Tão essencial que, em pesquisa feita nos Estados Unidos pela Freeman (empresa de eventos), 85% dos entrevistados afirmaram que os eventos presenciais são insubstituíveis e 78% esperam participar de eventos presenciais no próximo outono norte-americano.
Nessa pandemia, redescobrimos a importância do encontro, dos abraços, do olho no olho, do ao vivo sem uma tela no meio. Com o avanço da vacinação, aumentam as expectativas para eventos, como réveillon e carnaval, que, se confirmados, devem atrair um grande número de pessoas, movimentando a grande cadeia produtiva do entretenimento ao vivo. As perspectivas para o setor são animadoras, depois dessa longa crise provocada pela pandemia.
E afinal, o show vai continuar? Sim! O show, na verdade, nunca parou. Durante toda a pandemia, fomos tocados, entretidos e provocados pelas mais diversas expressões artísticas. Museus intensificaram a virtualização de seus acervos, a música esteve presente através das lives, artistas visuais digitalizaram suas exposições, teatros ofereceram sessões online… Mais do que nunca, artistas e criadores seguiram tocando-nos com a sua arte. Fica, por fim, a esperança de que, em breve, todas essas atividades possam acontecer presencialmente, sem risco para a população.
Como diria Ferreira Gullar, “a arte existe porque a vida não basta”.
Anita Carvalho é mestre em Economia Criativa pela ESPM, empresária artística e diretora acadêmica do Music Rio Academy, escola de mercado do entretenimento do Vivo Rio.