Quando de fala em decoração das festas mais incríveis, certamente vem um nome à cabeça de todo mundo: Antonio Neves da Rocha, já com dois livros publicados sobre o assunto: “As cores da festa” e “À mesa, com elegância”. Poderia ser chamado de a maior grife do Brasil? Se você acha que não, no mínimo há de admitir que os cariocas estão muito bem representados: casamentos inesquecíveis ou a festa que for, na física ou na jurídica, se Antonio entra em cena, é infalível.
Ele é aquele perfil sucesso-por-conta-própria: aos 22 anos (agora tem 58), por acaso decorou a casa da amiga Maria Helena Chermont de Britto e fez muito sucesso. Até então, trabalhava na sua fazenda, em Cordeiro: “Fui largando tudo e me dedicando”, diz o carioca inquieto, falante, bem-informado, de raciocínio apimentado, que fala quase tudo o que pensa – quase tudo, para a salvação de muitos (rsrsrs): “Já fui mais vaselina; eu não percebo isso, mas minha irmã Mercedes (de Orleans e Bragança), sim”. E conclui: “Com a idade, a gente vai gostando mais da verdade.”
Você é truqueiro?
Quem não é truqueiro? Tenho meus truques, claro, mas no melhor sentido. Isso pra mim é o mesmo que dizer que consigo me virar em diversas ocasiões, por exemplo, arrumo outra coisa que parece uma outra, e sem drama.
É vaidoso?
Não tenho vaidade nenhuma. Às vezes, acabo uma puta produção e, ali mesmo, fico com a mesma roupa do trabalho. E, claro, faço exames de rotina e está tudo direitinho, sigo em frente.
Mudou algo com relação a seu trabalho nos últimos tempos?
As pessoas andam mais comedidas com a crise. O mercado anda confuso, não é um momento para gastança — parte porque se conscientizaram, parte porque muito rico saiu do Brasil, parte porque muita gente de dinheiro está presa. E outra: muitos que ficaram soltos estão piscando (se é que vocês me entendem). Junto a isso, claro, estão picando menos dinheiro, em tudo. Mas me adaptei à crise, sei, por exemplo, de muita coisa boa que não é cara; ando seguindo por opções mais criativas, menos custosas. A criatividade é a solução, nem só de orquídeas e champagne vive o homem — rsrs.
Qual o pior pedido que um cliente pode fazer numa produção?
O pior pedido é opulência com pouca grana: não casa bem. Quando falam “quero que as pessoas caiam duras” com grana curta, fica mais difícil. Já elegância com pouco dinheiro, acho possível.
Aliás, qual o pior e o melhor tipo de cliente?
O cliente que confia é o melhor. O pior é aquele perfil cafajeste que come feijão e arrota caviar; esse eu abomino. Cada um faz como pode, disfarçar que está gastando é desnecessário.
Quanto mais dinheiro mais desconto?
Isso independe. Tem gente que é viciado em desconto, mas não descarto fácil, nada me constrange. Pega lápis e caneta e faça a conta — só faço caridade para quem precisa. Por exemplo, festa beneficente, já fiz mais de 100 na minha carreira. Se a pessoa tem dinheiro, não faço caridade; festa dá quem pode.
Lidar com gente é um dom. Às vezes, você perde a paciência e quer mandar tudo pro inferno? Em que situações e como fazer para controlar esse impulso?
Não tenho lembrança de me descontrolar. Acho difícil eu perder a cabeça, até porque seria pouco profissional; em muitos casos, tenho ligações profissionais e afetivas. Posso discordar até com firmeza, quanto mais o assunto é delicado, mas, pra dizer um não, dou uma volta danada. Mas falar a verdade não está acoplado a grosseria — sei discordar com doçura.
Você é genioso?
Diria que sou verdadeiro num mundo social. Quanto mais falo baixo, é quando estou mais nervoso. Entre amigos, entro numa verborreia e desembesto a falar; às vezes acho que baixa um santo. Tenho pensado que falar demais é perigoso.
Você é um colecionador ou acumulador? (Sua casa tem quadros no teto, estantes repletas, mesas cheias, coleção de sopeiras da Companhia das Índias, bichos do prateiro português Luis Ferreira, pássaros de porcelana alemã, esculturas etc….)
Nem colecionador nem acumulador — não gosto de nenhum dois. Existe um carinho grande com as peças compradas. Se alguém me chama de colecionador, me incomoda, mas também não sou um mero acumulador. Há quem diga que sou colecionador, mas não me intitulo assim. Sei de gente por aí que tem um terço e assim se declara. Prefiro não, acho pretensioso.
Aliás, usa suas coisas nas produções?
Minhas coisas pessoais não; do meu acervo, sim. Peças da minha casa é muito raro, só pra fazer algo muito especial com algum amigo querido. Por exemplo, para a Maria Geyer levei, uma vez, uma coleção de cisnes de prata para pendurar com flores sobre a mesa de doces. Aí eu faço porque quero sem a pessoa pedir.
Como se manter sempre atento a tudo sem se tornar repetitivo?
Acho que é uma coisa interna. Não fico procurando uma produção nova — vou fazendo, mas com as influências do mundo. Vai vindo, sabe?