Sabe aquele tipo de mulher que não passa despercebida, nem se quiser? A carioca Betina De Luca, de 32 anos, formada em Jornalismo, sempre teve um dom natural para a moda, com escolhas certeiras ao misturar peças com cores vivas e acessórios inusitados, exóticos. Por isso, ela é, quase sempre, modelo de suas próprias criações. “Sou uma mulher mais real do que uma modelo magérrima. Desenho roupas que eu gosto de usar”, diz. E dá resultado: muitas piram! O ano de 2017 está sendo ótimo pra ela, que, desde 2016, criou a Betina De Luca + WaiWai Rio (uma parceria com o amigo Leo Neves). A recém-lançada coleção da dupla “Relíquias Selvagens”, inspirada na Floresta Amazônica, anda nos corpinhos mais cheios de noção, tanto das cariocas como das paulistas.
Essa é a terceira com o Leo – teve “Bali”, depois de uma viagem à ilha da Indonésia; e “Marrocos”, com tecidos do país, que foi assunto na Vogue francesa em junho: “Uma jovem promissora estilista brasileira criou bolsas de cestas mostrando um impulso exótico para criar ‘joias’”, diz a matéria. Betina começou cedo, aos 18 anos, com a Bebel, multimarcas de novos estilistas. Também fez especialização em marketing de moda na Central Saint Martin, em Londres, além de ourivesaria. Por aqui, passou pela equipe de estilo da marca carioca Filhas de Gaia e pelo marketing do Fashion Mall. Em 2012, criou a marca de roupas e acessórios Virzi + De Luca, sucesso em quatro anos de história (até pouco antes de a Marcella Virzi ir morar em Portugal) com peças cheias de humor. (Foto com efeito “vintage”: Divulgação)
Analise o jeito de vestir da carioca.
A carioca tem um jeito superdisplicente, em que (quase) tudo é permitido. Você pode passar o dia na praia, depois vai almoçar com a mesma roupa e dali segue para um drinque, e vai até a noite; assim, praiana, e isso não tem problema – ninguém te olha torto…
Uma marca seguida da palavra “Rio” fica mais atraente?
Acho que sim. Acredito, neste movimento da moda local: as pessoas andam buscando o que é criado, pensado, vendido, na cidade delas – coisas feitas artesanalmente, evitando o “feito em massa” que vem de fora do País.
Como é lançar uma coleção tão exclu$iva com toda essa crise?
Momentos de crise sempre afetam qualquer negócio, mas a crise também pode gerar novas oportunidades e novos clientes porque o dinheiro muda de mão, mas ele sempre existe. E as mulheres gostam de se arrumar, estar bem vestidas, sentindo-se bonitas. Quem não gosta? Uma roupa nova bacana dá autoestima para a mulher. E eu não considero minha marca feita para um público “exclusivo”. Acho meu design bastante democrático, feito para agradar a todo tipo de mulher, de todas as idades.
Ser modelo de si mesma facilita?
Sei que pode parecer um pouco autoindulgente eu modelar minhas próprias coleções, mas, por algum motivo que eu não sei bem explicar, vende melhor quando eu visto a minha própria marca. Acho que dá confiança para as minhas clientes verem que eu acredito e gosto de verdade de vestir as peças que eu faço. Sou uma mulher mais real do que uma modelo magérrima. Eu desenho roupas que gosto de usar, e uso com prazer.
É fácil fazer uma marca dar certo?
Nunca é fácil fazer nada dar certo. Acredito muito em timing e sorte. Outro dia, estava vendo o filme “Match Point”, do Woody Allen, onde ele fala muito do fator sorte na vida, e realmente ter sorte é fundamental. Mas acredito mais ainda na frase de Thomas Jefferson: “quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho”. Trata-se muito do trabalho que é feito quando ninguém está olhando, as horas de pesquisa, criação, desenho, desenvolvimento de estampas, tendências, etc. Tento me manter o mais atualizada possível no que se passa no mundo da moda, mas, acima de tudo, no que eu quero vestir.
A vida vai bem?
A vida vai como a de todo mundo, acho eu. Altos e baixos, quente e frio, correria e muito trabalho, mas evito reclamar nos baixos e manter meus pés no chão, no alto. E eu tenho amigos incríveis, com quem consigo relaxar e dar muitas risadas, e uma família maravilhosa, que, no final das contas, é o que mais importa, não é?
A cidade anda numa fase divertida, criativa, engraçada, qual a sua percepção?
Não posso fechar os olhos para o que anda acontecendo no Rio, que vive uma fase tensa e perigosa. Mas estamos falando do Rio, a Cidade Maravilhosa, onde o sol e o mar espantam males do jeito que nenhuma outra cidade consegue espantar. Então, nós, cariocas, não podemos fingir que a nossa cidade passa por um momento difícil, mas, ao mesmo tempo, não podemos cruzar os braços, e não fazer nada. Navegar é preciso.
E os amores? Tem crise também pra mulher bonita?
Acho que tem crise para todo mundo quando o assunto é relação, né? Mas isso não quer dizer que não tem glórias também…