“Tem pessoas que basta experimentar uma vez para a vida acabar” – assim começa BRita BRazil a descrever as reações da ayahuasca contadas no livro “Relatos” (Editora Fontenelle), com 43 personagens reais que tiveram contado com o chá xamânico – conhecido como Santo Daime, uma bebida ‘sacramental’ produzida a partir de duas plantas nativas da floresta Amazônica – que vai ser lançado dia 31 de janeiro, data do aniversário de 65 anos da autora, no quiosque QuiQui, em São Conrado. A orelha da publicação foi escrita pelo ator Carlos Vereza, que vai tocar flauta no lançamento.
O objetivo de BRita é alertar sobre, segundo ela, os perigos da bebida, que contém o alucinógeno DMT, ilegal na Holanda, mas comercializada no Brasil. A ideia do livro surgiu logo depois da morte do seu filho, Rian Brito, de 25 anos, em 2016 – com o ator Nizo Neto e neto do humorista Chico Anysio -, de grande repercussão à época. Segundo ela, o jovem demorou um ano para aceitar o convite de um amigo para tomar o chá porque não encontrou nada na Internet sobre os efeitos colaterais.
No entanto, cedeu aos chamados e, em dezembro de 2014, teve o primeiro surto psicótico, na Porta do Sol, conhecido como Centro de Estudos Xamânicos de Expansão da Consciência (uma organização inscrita no CONAD – Congresso Nacional Anti Drogas), foi indo, foi indo e morreu um ano e quatro meses depois por afogamento, encontrado numa praia em Quissamã, no norte fluminense. Foram três anos de pesquisas e depoimentos de médicos psiquiatras, psicólogos, dentre outros. Ela começa a publicação listando os 33 sintomas de doenças por consequência da ayahuasca.
Qual foi a primeira ideia para começar a escrever o livro?
O livro é uma reação a uma ação. Quando comecei a falar sobre isso, criando a campanha de alerta aos perigos do ayahuasca, fui persistentemente agredida virtualmente por usuários e frequentadores da seita. Ninguém tem ideia do terror que vivenciamos, por um ano e quatro meses, com a doença que o meu filho contraiu depois de tomar esse veneno. Desde então, decidi me isolar para pesquisar e quero agora, com o livro, dar continuidade e poder salvar muitas vidas. Mas essa ação deveria ser desenvolvida pelo governo, é assunto de saúde pública, e não por uma simples mãe. A grande covardia é que não avisam aos jovens que estão ingerindo uma droga, diluindo seu teor gravíssimo na água, ao usar o termo ‘chá’. E, se eu não ajudar as pessoas, passo mal.
Foi fácil encontrar os personagens?
Não fiz nada; fiquei em casa e vieram até mim. Todo mundo me indicando. Fui descobrindo e subindo pelas paredes, fiquei enlouquecida, chorava, queria morrer, queria matar, é uma coisa absurda o que está acontecendo no Brasil. É um ‘jovencídio’. Tive três anos pra pensar. Os jovens foram para as ruas em 2013 no Rio, fiquei amiga dos black blocks e, depois que começaram a reagir às bombas, pensei: essa ayahuasca veio para tirar a consciência do jovem universitário que ficam perdidos e rasgam diplomas, viram pra parede, param de comer e não fazem mais nada. Meu filho não lembrava que tocava baixo, ele era um gênio; nunca mais encostou no gato que amava. Tira a memória, tudo da pessoa – é um processo de anulação. Agora veja só a casa de marimbondo que estou mexendo!
Caiu a ficha da morte do seu filho?
Sou a pessoa mais inconformada do mundo com tudo. Fiquei isolada na minha casa, na floresta (São Conrado), mas é um tesouro você não aceitar as coisas. Nada me interessa na minha vida mais, só coisas pontuais. Eu morri e ressuscitei pra isso. Já escrevi mais seis livros e vou pulicar até 2020, um sobre quem foi o Rian, mas ainda estou morta pra vida. Sou incapaz de tomar um chope e ficar rindo com as pessoas num bar. Tiraram tudo de mim. Tenho minha filha, meus netos maravilhosos, mas não é disso que se trata, mas de afinidade. Não é que eu vá me matar, mas tenho planos de vida, não sou Zeca Pagodinho (“deixa a vida me levar”). Eu sempre produzi tudo e agora estou focada nessas histórias. Saí do crematório do meu filho, num estado impossível de descrever, mas fui direto ao computador alertar.
Qual o sentimento que mais te motivou?
Quem faz e vende o chá se gaba que são 50 mil usuários de ayahuasca no País. Quero vender 50 mil livros. Omissão é crime; não poderia deixar essa história na gaveta. A ciência não tem como saber se a pessoa que toma uma droga vai surtar ou não. Você acha que é legal dar uma droga alucinógena na Igreja e dizer que é sacramento indígena xamânico, e não tem nada disso. Não venha me falar da cultura indígena, por favor, isso não é xamânico, que nome lindo, sacramento xamânico de expansão consciência. O mais triste é que espalharam por aí que eu sou louca, que o Rian era drogado, mesmo sem conhecê-lo. Ele não tomava um gole de nada.
A venda da ayahuasca é uma indústria?
Antigamente tinha o pajé, com um recipiente inocente fazendo uma cerimônia para curar doenças; hoje são plantações, fábricas. Tem uma fazenda de ayahuasca em Guaratiba, uma loucura, a indústria conseguiu se legalizar. Esses diabos, dirigentes comercializam e ganham dinheiro através da morte de jovens; são impiedosos, frios, e essas pessoas me trouxeram tantas informações não poderia deixar isso na gaveta. O livro é uma reação fabulosa de uma ação monstruosa. Tem cinco mil igrejas só de umbanda, o ‘umbandaime’, que usam o chá. Nem o espírito pode falar através de um corpo alucinado. Isso não é expansão de consciência, mas de inconsciência.
E as pessoas que não apresentam esses efeitos?
Tem que saber como é a reação da pessoa antes e depois da ayahuasca, de como ela era antes e de como ficou. Mas tem gente que não dá nada, tanto que o chá está totalmente dominado, exportado para 15 países, uma loucura, e está sempre na mídia. Teve esse Prem Baba falando comentários supérfluos na TV e em seu site diz que o ayahuasca foi seu caminho espiritual. Irresponsabilidade. E pessoas públicas falando que o ayahuasca é patrimônio brasileiro. Eles tomaram, está tudo bem. É o egoísmo do brasileiro. Tem também os maiores pesquisadores do Brasil no assunto: Luis Fernando Tofoli (psiquiatra e professor da Unicamp) e Bia Labate, defensores há 30 anos da bebida.
Como aconteceu com Rian?
Foi um ano e quatro meses de inferno. Um amigo dele chegou aqui em casa chamando a gente para tomar um chá, como não gosto disso, não fui. Tem um lugar aqui na rua das canoas que faz esse ritual há 40 anos. Meu sobrinho ia lá tomar. Detestava esse negócio do povo vomitando. Ele voltou sério, ele ria o tempo todo, humor absurdo, inteligente pra cacete. Então ele ficou chato e sem tocar – isso porque nasceu com o baixo nas mãos, um autodidata. Pensei que ele estava interessado em outros assuntos, mas passou um tempo até que ele parou de comer e beber água dizendo que era Deus que deu uma missão e queria encontrá-lo no mato. Ficou pele e osso. Chegamos a passar três meses em Abadiânia, para tratamento com João de Deus, em 2015, mas pouco adiantou.
Acredita que essas seitas façam uma lavagem cerebral?
Eles pregam, como em toda religião, o crescimento através do sofrimento, que o ayahuasca está te limpando e as pessoas sofrendo o cão. Esse é o padrão da Terra, sofrer para crescer. Tem atriz que diz que saiu fortalecida, mas não poderia ter saído fortalecida depois de ganhar um Oscar?
Como seguir a vida?
Escrevendo meus livros, criando meu Centro Cultural aqui em casa, que quero deixar para meus netos e para o Brasil, com muita arte. E vai tudo estar na minha biografia, a ‘Eco BRita’, tudo sobre minha filosofia de vida e tudo o que aprendi com a vida e a morte.
Foto: Victor Hart
Amiga Brita, te admiro pela determinação e coragem. Sabemos que a Ayahuasca é um Cartel. Ñ há intenção de evolução e sim de abuso de poder, lavagem cerebral, manipulação mental, abusos, lavagem de dinheiro e muita ilusão. A origem indígena foi roubada e desvirtuada pelo homem urbano capitalista com o ego de achar que tem domínio nas ciências da natureza. Parabéns pelo seu empenho. Que a luz da verdade seja honrada livrando pessoas das prisões dos homens perversos da ayahuasca.
BRita é uma mulher guerreira, que está enfrentando toda essa desinformação e as ameaças de fanáticos de seitas, para levar conhecimento à população. O uso dessa droga alucinógena é liberado em alguns países e precisa urgentemente de uma regulamentação, a fim de que seja controlado e administrado apenas por profissionais de saúde (que julguem necessária a utilização).
Eu, particularmente, acho que não vale a pena, pelo risco de ficar psicótico. Sei do que estou falando com conhecimento de causa própria. Ninguém precisa de drogas alucinógenas para transcender e evoluir. E é lamentável que tantas vidas terminem de forma trágica por causa da irresponsabilidade do CONAD. Há pessoas que se preocupam tanto com o uso da maconha e não veem que estão distribuindo morte em pequenas doses por aí, a torto e a direito. Chega de mortes e de pessoas que se tornam mentalmente incapacitadas! Informe-se!
BRita, obrigada por tudo.
Muito esclarecedora sua entrevista. Parabéns ! Você é uma mulher forte e corajosa. Está conseguindo fazer da sua dor,uma benesse, um alerta para que outras pessoas não passem pelo mesmo trágico problema. Receba toda a minha admiração.
Muito obrigada. A partir do dia 31 o BRasil não será mais o mesmo, quando souber como seus jovess são tratados. Pura covardia. Em nome da grana e poder. isso não se faz.
Entrevista necessária, perguntas importantes para esclarecer o que todos precisamos saber. Parabéns LuLacerda e Brita Brazil, essa omissão de que é droga precisa acabar. BRita, sua dor é inimaginável e isso sim é expansão de consciência, o amor de levar ao conhecimento de todos para salvar nossos jovens, dar a eles a oportunidade de saberem dessa roleta russa a qual são convidados.
Bom dia!
Lamentável o que aconteceu.
Através do face comunica com o Bolsonaro…pede ajuda dele…o momento é agora. Tente agendar um encontro com ele.
Também não gosto de nada que provoca alucinações.
Boa sorte!
Prazer em conhecê-la. Estou plenamente de acordo, e do seu lado, o mundo precisa saber desta injustiça com nossos jovens. A perda dos jovens têm sido imensa, desgraçando gerações e exterminando as famílias. Precisamos de mulheres corajosa como você. Muito obrigada!
Brita, seu livro é baseado em alguma pesquisa ou apenas em sua vivência? Poderia citar artigos e/ou fontes? Acredito que devemos, sim, entender quem é sério e quem quer apenas ganhar algo com isso!
Ássim como em muitas doutrinas, é muito fácil culpar outros por uma responsabilidade nossa. A sua responsabilidade, minha senhora, é ter cuidado do seu filho. Agora deve estar doendo muito a ponto de não olhar pra dentro de si e reconhecer que falhou muito. Seu filho usou de todas as formas para dizer que precisava de ajuda. O chá botou isso a tona e a culpa é de quem? Existe muitas pessoas que estão fazendo uso errado disso, os seres humanos conseguem distorcer tudo que é bom neste mundo…… Mas quem é o juiz? Você? Uma pessoa que não deu a devida importância para algo e agora está com remorso por não ter feito nada? Nos poupe da sua ignorancia….. Só podemos dizer algo que sabemos……
Consagrei ayahuasca pela primeira vez no réveillon de 2016 e continuei consagrando até outubro de 2018, pelo menos uma vez ao mês. A ayahuasca mudou a minha vida. Eu era ansiosa, vitimista e vivia em conflito. Fiquei mais calma e centrada. Reorganizei a minha vida, terminei relacionamentos abusivos. Acredito que pode levar a surtos se a pessoa já tiver propensão para tal. Por isso os dirigentes se preocupam em saber se a pessoa toma remédios, se já teve surtos, etc. Também um bom dirigente acompanha os discípulos e os ajuda a passar pelo processo.
Relatos anônimos, sem nenhuma citação de base cientifica, largamente difundida na academia e nas redes.
Essa senhora segue a sanha de buscar fama e notoriedade passando por sobre a crença das pessoas.
Vejam https://bit.ly/2S6xQXg