O músico Marcos Valle, em turnê pela Europa, foi quem anunciou a morte de Anamaria de Carvalho, aos 75 anos (a causa ainda não foi divulgada), nessa quinta (03/08). Ela era a “Mulher de Branco de Ipanema”, um personagem, assim como qualquer ponto turístico do Rio. Valle foi casado com Ana entre 1965 e 1969, quando ela fez carreira internacional como cantora, ao lado de Sérgio Mendes e do próprio marido, além de ter trabalhado como modelo. “Anamaria e eu fomos casados por quatro anos, ainda muito jovens: eu, com 21, e ela, com 19. Ela era uma mulher-menina de personalidade forte, alegre, muito justa e amorosa. Fomos felizes durante esse tempo, tanto no Brasil quanto viajando pelo mundo. Ainda muito jovem, a vida a levou para outros caminhos, mas, durante todo esse tempo, eu e o seu irmão (Luiz Carlos), meu querido amigo, mais conhecido como ‘Meu Bom’, sempre estivemos em contato, ajudando-a no que fosse preciso. Que ela siga na luz, e que a família fique em paz”, escreveu Valle.
Os “outros caminhos” foram as drogas, quando ela começou a usar LSD. Desde os anos 1980, andava por Ipanema, na maioria das vezes, vestida de branco, segundo ela, “luto japonês” pela morte da avó. Ela morou por muitos anos num casarão na Rua Joana Angélica, número 207; depois se mudou para um apartamento na Alberto de Campos, no prédio da série “Detetives do Prédio Azul”.
Anamaria era filha do radialista e jornalista Luís de Carvalho, falecido em 2008. No período da bossa nova, conviveu com Tom Jobim, Leila Diniz e Vinícius de Moraes, dentre outros. Chegou a cantar no Carnegie Hall, em Nova York, falava três línguas além do português (inglês, francês e italiano); na década de 1970, envolveu-se com o movimento hippie em Arembepe (Bahia). O restante é lenda — muitos cariocas têm alguma história pra contar, como o jornalista Chico Canindé, que, em 2011, lançou o doc “Anamaria – A Mulher de Branco de Ipanema”.
O filme, que está no YouTube, tem depoimentos da atriz Guilhermina Guinle, do jornalista Joaquim Ferreira dos Santos e do cantor Lobão, por exemplo. “Sempre quis desvendar a história da Mulher de Branco. Acompanhava de longe os passos dela desde o início da década de 90. Anamaria tinha muita desenvoltura frente às câmeras e também adorava posar para fotos. Em determinado momento da sua vida, ela saiu do lugar comum, criando um universo próprio, em paralelo, cheio de poesia e, ainda, com muita música, uma de suas paixões”, disse Chico à época.
Rafael Bokor, colaborador da coluna e criador do “Rio — Casas & Prédios Antigos”, esteve com ela em 2013 e conta que teve uma aula de como foi a Ipanema no passado, das pessoas famosas com quem conviveu e das casas onde morou. “Fiquei encantado com sua simpatia e lucidez (em 95% do tempo); já nos outros 5%, ela contou que foi uma das fundadoras da Rede Globo e que a Xuxa era quem desenhava suas roupas”, diz ele.