O autor teatral Márcio Azevedo, quando está em cartaz, em espaços administrados pelo governo, onde não precisa pagar aluguel, tem uma regra: beneficiar artistas que precisam de um empurrãozinho. Nesse fim de semana, antes da apresentação de “Eu sempre soube…”, com Rosane Gofman, no Centro Cultural Laura Alvim, em Ipanema, 80 moradores e ex-moradores de rua ocuparam o palco com o coral “Uma só voz”, dirigido por Ricardo Branco Vasconcellos, à frente do projeto desde sua criação, em 2016. “Tenho um familiar que foi morador de rua, mas infelizmente morreu; então essa condição me toca muito e me sinto na obrigação de devolver isso às pessoas do mesmo jeito que estou sendo beneficiado. O aluguel em teatros particulares no Rio chega a custar R$ 5 mil por dia”, diz Márcio.
O coral cantou “Caçador de Mim”, de Milton Nascimento, e “Semente do Amanhã”, de Gonzaguinha, pegando muita gente de surpresa. “Foi engraçado ver a reação do povo da Zona Sul sem entender nada quando eles entraram no palco, passando pela plateia”, conta Márcio, que preparou um lanche daqueles nos bastidores. Em suas produções, ele costuma convidar artistas de rua para fazer um número antes das apresentações, sejam poetas, cantores, travestis, bailarinos etc. “Não faço arte para mim, mas para ver as pessoas emocionadas, sorrindo e sempre dividir meu palco. Vou trazer, nas próximas semanas, uma plateia de cegos que vão usar fones de ouvido com audiodescrição das cenas”.