
A água que milhões de cariocas bebem vem dessa pocilga, depois de ser tratada pela estação de tratamento de água do Guandu. Esgoto industrial e doméstico misturados com a água do rio /Foto: Mario Moscatelli
O tema ambiental não é assunto muito interessante para a maioria dos políticos, visto que não rende muitos votos. Por conta disso, a pasta ambiental é tida como a “menina feia” do secretariado, potencialmente mais produtora de problemas do que supostos dividendos políticos para os ícones das políticas local e nacional.
Enfim, questão cultural típica de lugares que foram e continuam pensando e agindo como colônias de exploração do século XXI, fato que nos tem custado muito, em escalas nacional e local.

Praia da Barra contaminada por cianobactérias, resultado da falta de saneamento que liquida com o sistema lagunar de Jacarepaguá /Foto: Mario Moscatelli
Mas vamos para o setor de sugestões ao futuro prefeito, seja ele quem for.
Diante da metástase no tecido socioambiental do município do Rio de Janeiro, existem algumas chagas históricas que nunca foram enfrentadas pelo chefe do executivo municipal por razões eleitorais óbvias. De qualquer forma, farei algumas indicações do que, hipoteticamente, o futuro prefeito deverá se preocupar, pois estamos sentados em inúmeras bombas-relógio prestes a explodir.

Crescimento urbano desordenado e suas consequências no sistema lagunar de Jacarepaguá com o assoreamento e contaminação por esgoto das lagoas da região /Foto: Mario Moscatelli
Então, vamos lá:
1- Enfrentar a situação da péssima qualidade do saneamento produzido pela estatal que monopoliza o serviço em boa parte do município. Como poder concedente, o município do Rio de Janeiro não pode continuar fazendo de conta que tudo está ótimo, pondo interesses políticos e econômicos das castas que se beneficiam do “caos hídrico” acima da qualidade de vida da população. Portanto, espera-se, sem muita expectativa, que o próximo prefeito exija da estatal serviço de qualidade e só cobre onde, de fato, presta o serviço, seja no saneamento, seja no abastecimento.
2- Enfrentar permanentemente a questão do crescimento urbano desordenado, fonte de riqueza e votos para alguns afortunados, por meio de ações constantes de ordenação do uso do solo, bem como com a efetivação de políticas habitacionais, visando suprir a demanda das classes socioeconômicas menos favorecidas.

Crescimento urbano desordenado: Rio das Pedras em área naturalmente vulnerável e cada vez mais vulnerável devido ao assoreamento da lagoa da Tijuca /Foto: Mario Moscatelli
3- Junto aos governos estadual e federal, unir-se no esforço da recuperação do sistema lagunar de Jacarepaguá, o maior passivo ambiental exclusivo da cidade do Rio de Janeiro, que, em breve, vai gerar um dos maiores desastres no município, muito maior do que os relacionados com as chuvas de 1996 e 2010. Essa situação passou de todos os limites, em que, paralelamente ao crescimento urbano, as consequências da falta de ordenação do uso do solo e de saneamento universalizado estão conduzindo toda a bacia hidrográfica local ao infarto.
4- Assumir o protagonismo necessário diante dos passivos metropolitanos relacionados com a degradação das baías de Guanabara e Sepetiba. Essas duas baías têm um potencial econômico gigantesco, perdido em função da degradação ambiental sistêmica.

Bacia hidrográfica do município transformada em valões de esgoto e cianobactérias, no caso da baixada de Jacarepaguá /Foto: Mario Moscatelli
5- Incrementar o projeto de reflorestamento das encostas, projeto de mais de duas décadas, que merece reconhecimento e, mais do que isso, incentivo e multiplicação pelas encostas desmatadas do município.
6- Assumir o protagonismo, junto aos governos estadual e federal, da situação para lá de precária da bacia do rio Guandu no que diz respeito principalmente ao ponto de captação da estação de tratamento de água desse rio. Apesar de esse ponto estar fora do município do Rio de Janeiro, não se pode conceber que a água, antes de ser tratada na estação de tratamento de água do Guandu, continue sendo contaminada por esgotos doméstico e industrial, de outros três municípios que não dispõem dos serviços de saneamento universalizado em pleno século XXI. Destaca-se que milhões de eleitores do município dependem dessa água, que eu repito pela terceira vez, antes de tratada na estação de tratamento de água do Guandu, vem misturada com esgotos doméstico e industrial. Inaceitável! Destaco que, até hoje, experts da estatal não me responderam se estação de tratamento de água também trata esgoto!

A ecobarreira recém-instalada em Jacarepaguá, em operação vista do alto nessa sexta (27/11). Centenas de toneladas de detritos por mês a menos chegando no sistema lagunar /Foto: Mario Moscatelli
Sem dúvida, essas sugestões estão muito longe de esgotar o assunto ambiental numa cidade que se especializou em destruir e/ou subutilizar seus recursos naturais, mas, como dizem, a esperança é a última que morre, e minha função é alertar e cobrar, seja quem for o futuro prefeito eleito. Quando há vontade política as coisas acontecem. Portanto, futuro prefeito, não me venha com a historinha que faltam recursos para as questões ambientais, pois o que tem faltado historicamente é vontade de mudar esse quadro sistêmico de degradação.
Muito bom!!!
Boas propostas!!!!Muito bom!!!