Semana do meio ambiente, período no qual, de uns tempos para cá, é obrigatório plantar árvores, muitas das quais serão abandonadas, criar unidades de conservação, muitas das quais não sairão do papel, discursos que não sairão do palanque e a vida segue, ou melhor, segue sendo exterminada sob o atento olhar míope de quem poderia fazer mais e faz de menos por ignorância ou interesse.
Olhando as fotos que se acumulam nos vinte e poucos anos do projeto “Olho Verde”, constato que a tal Natureza, aquela que insiste e não desiste há coisa de 3.5 bilhões de anos, mãe bipolar, que quando se aborrece, sobra para todas as espécies, sem distinção de raça, gênero ou credo, continua padecendo por maus tratos de seu filho pródigo. O macaco doido, aquele recém descido das árvores, o que ama e mata em nome de um ou vários Deuses invisíveis e destrói sua obra visível, seu templo, sua casa. Coisa que a psiquiatria, um dia, possa resolver!
Enfim, depois de ser chamado de pouco conhecedor dos problemas das encostas do Rio de Janeiro por seu atual prefeito, aliás, percebo que os administradores públicos eleitos nesse lugar, basta serem contrariados que logo partem para a desqualificação profissional de quem os supostamente incomoda, chego a triste conclusão que continuamos adernando quando o assunto é ambiente.
Fotos de vinte anos atrás da baía de Guanabara, do sistema lagunar de Jacarepaguá, da baía de Sepetiba, da época que se usava slide nas máquinas fotográficas que insistiam em pifar em pleno voo para meu desespero, quando comparadas com as fotos recentes produto das memórias flash e cia., revelam que apesar de algumas vitórias no varejo, as derrotas no atacado continuam de vento em popa.
Insistimos tanto localmente como globalmente com algumas exceções a continuar usando o cheque especial planetário, usando muito mais do que o planeta finito pode nos fornecer. E neste contexto, tasca-lhe degradação e miséria por todo canto, pois alguém, além da Natureza terá de pagar pelo desmando econômico-ambiental e essa conta sobra geralmente para aquela parcela já ferrada naturalmente.
A cidade do Rio é o microcosmo dessa relação suicida, promíscua, indecente que temos com os recursos naturais. Lugar que tinha tudo para continuar sendo o “paraíso na Terra”, resolveu historicamente tornar-se a cada ano o “purgatório da beleza e do caos”, onde a cada temporal mais intenso, morros descem, baixadas alagam, continuando a triste sanha de uma sociedade acostumada às tragédias anunciadas, rapidamente assimiladas por sua resiliência patológica.
No dia primeiro de junho de 2019, às 9:30, junto com alunos da escola Carolina Patrício, pais, mães e professoras(es) foram plantadas mais 200 mudas de mangue vermelho na margem da lagoa de Marapendi onde em 1992, com apoio da ong EcoMarapendi, iniciei meus serviços na proteção e recuperação do sistema lagunar de Jacarepaguá.
Desde então, 22 anos se passaram em defesa dos manguezais e da baía de Guanabara, 27 anos se passaram no sistema lagunar, 30 anos se passaram na defesa da lagoa Rodrigo de Freitas, 31 anos se passaram anos das batalhas pelos ecossistemas da baía de Ilha Grande e finalmente 35 anos se passaram desde os primeiros mergulhos em Angra dos Reis, onde a única certeza que tenho até hoje apesar das profundas feridas é que estou no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa.
Não espere por milagres e tão pouco produções cinematográficas, ações comandadas por algum enviado para fazer alguma coisa pelo ambiente e pelo seu futuro. Apenas haja, sozinho ou acompanhado. Nessa história não há mais mocinhos. Na melhor das hipóteses, talvez cúmplices de tudo que vemos de errado. Portanto, mexa-se!