
Principais problemas envolvendo as lagunas e principais pontos de escoamento de esgoto por meio de canais e rios (e=esgoto; a=assoreamento; l=lixo; c=cianobactérias) /Foto: Mario Moscatelli/Olho Verde
Quando li, duas semanas atrás, a respeito da passeata pró-Amazônia, que reuniu muitíssimos cariocas, anônimos e ilustres na praia de Ipanema, percebi uma grande oportunidade para chamar a atenção para a situação dramática dos ecossistemas urbanos da cidade do Rio de Janeiro que constituem o bioma Mata Atlântica.
Ora, se a turma se mobilizou pela importantíssima Amazônia em chamas, iria também se mobilizar pela degradação sistêmica de nossas lagunas, baías, manguezais, restingas, brejos e demais ecossistemas de nossa cidade; afinal, vivemos aqui e dependemos diretamente desses ecossistemas para sobreviver. Bom, isso é, pelo menos, o que espero de forma otimista e esperava de forma realista.

Situação da laguna da Tijuca em 2017, onde por um lado continua o intenso assoreamento, crescimento urbano desordenado, o lançamento de esgoto sem tratamento e as consequências associadas com a proliferação de cainobactérias /Foto: Mario Moscatelli/Olho Verde
No entanto, lá no meu âmago, eu sei que não tenho nenhum elemento para funcionar de catalisador de ódios tampouco de xingamentos durante o evento denominado “Grito das Lagoas”, quando será apresentado uma breve diagnose das causas e principalmente das potenciais consequências do que está para acontecer na Baixada de Jacarepaguá, em resposta ao processo de degradação.
Portanto, será um ato cívico em defesa dos ecossistemas de uma cidade que se especializou historicamente em destruir o que tinha e ainda, residualmente, tem de melhor: seu ambiente. Outro aspecto importante é que a causa ambiental tem servido de “bucha de canhão” para os mais diversos interesses, tanto os nobilíssimos quanto os muitíssimo menos nobres. O que, de fato, se objetiva é atacar desafetos de todos os tipos, ficando o tema ambiental apenas como suporte simpático para os ataques.

Lagoinha das Taxas tomada por cianobactérias durante o verão, fruto do despejo permanente de esgoto e do crescimento urbano desordenado /Foto: Mario Moscatelli/Olho Verde
Acompanhando profissionalmente o ecocídio em nosso país, desde o final dos anos 80, com um olhar bastante crítico, clínico e envolvido diretamente no combate de delinquentes públicos e privados, eu já vi de tudo, principalmente muito gasto de energia em determinadas mobilizações com resultado prático nenhum, pelo menos em relação ao que, em tese, está se defendendo.
Não sei bem o que acontece em nossa cidade, tão maltratada, principalmente com a cabeça das pessoas que vivem por aqui — um lugar que tinha tudo para dar certo, mas que insiste, pelos mais variados motivos, em repetir os mesmos erros até que as esperanças começam a escassear, a resignação e o medo se enraizarem diante da destruição galopante que se impõe sem medo de ser enfrentada.

Colapso ambiental de áreas expressivas do sistema lagunar de Jacarepaguá (laguna da Tijuca) /Foto: Mario Moscatelli/Olho Verde
Em resumo, além de ter encaminhado, para várias autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário do estado do Rio de Janeiro, documento fotográfico que expõe claramente o monstro que estamos engordando e que por fim irá nos engolir, espera-se que a mobilização da sociedade para o assunto também se materialize, visto que a Amazônia também é aqui!