O mês de junho nunca me foi muito simpático, muito pelo contrário.
Perdi meus queridos pais nesse mês, num intervalo de um ano, bem como no ano de 1990, quando tive que fugir do Brasil por conta de minhas ações em defesa do meio ambiente na baía de Ilha Grande. Sem dúvida, para os cancerianos nascidos em julho, o mês de junho não é para os fracos!
De qualquer forma, neste sábado (05/06), comemora-se o tal Dia do Meio Ambiente.
Saco de pancada da espécie dominante já vem demonstrando, nas últimas quatro décadas, que a paciência está terminando, ou que os abusos aos seus mecanismos de homeostase, responsáveis pela atual prodigiosa civilização, já passaram do limite faz tempo. Os sinais estão por toda parte; para percebê-los, basta não ter o rabo preso com a delinquência ambiental local ou internacional.
Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, as coisas vão muito, mas muito, mal.
Para isso, basta lembrar o que aconteceu nos últimos 16 meses, desde a primeira crise da tal geosmina. Aconteceu em 2020 e novamente em 2021, sem que as autoridades tivessem tomado qualquer medida concreta para reverter uma situação que punha
e continua pondo em risco a qualidade da água para mais de sete milhões de consumidores da Região Metropolitana.
Apenas depois da segunda recente crise, e de muita pressão da imprensa, é que finalmente tomaram alguma medida que, no meu entendimento, teve mais resultado prático em consequência da época do ano do que por qualquer outro motivo.
A reação da sociedade e dos órgãos de fiscalização tem sido a mesma de sempre: alguma reclamação aqui, alguma movimentação burocrática acolá, mas mudança para melhor, de fato, isso continua num futuro ainda não identificado — afinal, estamos no Rio!
Se nem a água que bebemos gera alguma reação mais contundente, imagine para o resto!?
Tudo na mesma dos anos anteriores: esgoto por toda parte, tanto nas periferias como nas partes nobres dos municípios que compõem a Região Metropolitana. Pouca ou nenhuma importância se dá a respeito do tema, a não ser a expectativa do cumprimento por parte das empresas privadas que pagaram uma fábula pela estatal, que recebia, mas não prestava o serviço. Que, a partir de 2022, de fato, paguemos e recebamos o produto comprado!
Essa expectativa dependerá do cumprimento do que está no contrato, assim como do funcionamento da tal agência reguladora que, até hoje, não disse a que veio. Para tudo isso dar certo, não esqueçamos da fiscalização da parte de quem paga por um serviço que, nas mãos da estatal, se tornou uma ótima forma de faturar alto, sem prestar um serviço de qualidade.
A melhoria de nosso vexaminoso estado falimentar em termos de saneamento, um escárnio nacional e internacional, apenas poderá ser avaliado em dois ou três anos, quando pudermos, de fato, constatar o pleno funcionamento das estações de tratamento, hoje sucateadas ou sem nunca ter funcionado em plena carga, bem como o restante dos equipamentos que fazem parte do sistema de saneamento. A esperada melhoria no ambiente levará um pouco mais de tempo. No entanto, desde que a estrutura existente seja posta em total funcionamento, acredito que já poderemos constatar alguma melhora, ao menos nos valões onde os rios, em quase sua maioria, transformaram-se.
Grandes questões – como a da Amazônia ou dos demais biomas, da biodiversidade que vem sendo dizimada, dos desequilíbrios climáticos que atingem da produção de energia à produção de alimentos – são temas ainda distantes de uma região que detonou e continua detonando seus recursos naturais como se não houvesse amanhã.
Estamos para lá de atrasados em marcos civilizatórios básicos, tais como saneamento, ordenação do uso do solo, coleta e reciclagem de resíduos, tudo tendo como pano de fundo, uma cultura voltada ao uso predatório do recurso natural, até seu esgotamento.
Temos sido assim por opção e acomodamento, enquanto sociedade, eleito o que aí tem estado, independentemente de quem estivesse ou esteja no poder, de seu viés ideológico e ou partidário. Tivemos governos regulares, ruins e muito ruins. Infelizmente vivenciamos, no momento, um para lá de muito ruim quando o tema é ambiente.
Como não há mal que dure para sempre, espera-se que, em algum momento, a situação melhore para o tal saco de pancada, tendo sempre claro que para tudo há limite, e o nosso cheque especial planetário tem sido utilizado cada vez mais cedo e de forma abusiva.
Não é uma questão de religiosidade ou subjetiva de foro pessoal! É uma questão moral, objetiva e de inteligência com base científica. Destruir o que nos originou e sustenta não tem o menor sentido, a não ser para sociopatas genocidas, que, infelizmente, têm profunda aceitação em boa parte das sociedades do Planeta, tanto pela sua eficiência em cumprir tarefas para alcançar seus objetivos como pela sua falta de empatia diante de seus mandos e desmandos. Essa turma não conhece limites até que a sociedade os imponha! Até lá, funcionam como verdadeiros moedores de carne.
Resta saber até quando boa parte da humanidade permanecerá submetendo-se a líderes que continuam nos conduzindo ao abismo ambiental.
O futuro, aquele que sempre está mudando de opinião, em breve nos dirá quais forças venceram essa guerra que travamos de forma fratricida com as demais espécies e suicida com a espécie dominante.
Nada há a ser comemorado neste dia 5 de junho, mais uma vez.
Também não há mais tempo para se lamentar, mas concentrar as forças e continuar lutando em favor de um futuro ambientalmente viável para nós e demais espécies que compõem a família de que fazemos parte.
O resultado final está sendo construído agora.