Nesta época do ano, Oskar Metsavaht chega à sua fábrica – num casarão de 1910, em São Cristóvão, subúrbio do Rio – às 10 da manhã, e só sai por volta das 8 da noite. Ele e uma equipe de 30 pessoas. Tanta dedicação tem razão de ser, para o fundador da Osklen, marca que teve início no comecinho dos anos 90, com um investimento de inacreditáveis 7 mil dólares: é que a coleção, mesmo depois de feita (neste caso, a de inverno), passa por um filtro tanto de estilo quanto comercial, o que costuma durar mais ou menos 10 dias de empenho absoluto.
Talvez seja isso uma das razões do rápido crescimento da empresa: já são 64 lojas, oito das quais no exterior, incluindo aí a próxima, que será inaugurada em Buenos Aires. Oskar nasceu em Caxias do Sul, mas é mais carioca do que qualquer um nascido em Ipanema – no jeito, no figurino, no pensamento. Aliás, esse é seu bairro, onde mora com a mulher, Nazaré Almeida Braga, e os três filhos.
É bastante conhecido, quase como um ator, a ponto de um taxista comentar recentemente ao passar numa banca de revista, em Botafogo: “Esse homem parece aquele cara da Osklen”. “O Oskar?”, quis saber a passageira, e ele confirmou. Metsavaht é atleta (escala montanhas), Metsavaht é Cônsul (Cônsul Honorário da Estônia no Rio), Metsavaht é Embaixador da Boa Vontade (da Unesco), entre tantas coisas.
É fotógrafo também: acaba de ser convidado por Sue Hostetler, editora da revista da “Art Basel”, a mais importante feira de arte dos Estados Unidos, para expor as fotos feitas por ele, na próxima Art Basel, de 1º a 4 de dezembro de 2011, em Miami: “Fotógrafo, pra ter inspiração pras minhas coleções”, diz ele, sempre atento a tudo, inclusive ao figurino, seja onde for: “Saber se vestir é tão importante quanto apreciar ou uma boa música, ou uma boa leitura”, afirma.
UMA LOUCURA: “Cruzo as linhas, vou lá, mas sei voltar. Não me jogo nas loucuras totalmente.”
UMA ROUBADA: “Chegar a uma festa ruim e ainda ter que enfrentar uma fila pra sair – é a pior coisa do mundo.”
UMA IDEIA FIXA: “As minhas ideias fixas são as de sempre: perfeição e detalhe.”
UM PORRE: “Um que tomei com Leonardo, meu irmão (o ortopedista Leonardo Metsavaht), e o escritor Carlos Leonan, no Alasca, com uísque 18 anos e gelos de milhões de anos. Passamos 30 dias por lá. Tem ainda os porres homéricos em festa, que todo mundo já tomou.”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Gostaria de ter feito um curso de Desenho junto com a faculdade de Medicina; mas acho que consigo me expressar.”
UM APAGÃO: “Meu apagão clássico é o de esquecer os nomes das pessoas, os nomes dos filmes, os nomes dos lugares, os nomes dos autores; mas o pior são os das pessoas mesmo”.
UMA SÍNDROME: “A síndrome do brasileiro de achar que tudo o que vem de fora é melhor. Todos nós temos um pouco dessa síndrome, sendo que alguns têm muito.”
UM MEDO: “Tenho medo de coisas legitimamente perigosas, como dirigir carro pelas estradas do País, por exemplo. Meu maior medo é o de perder este momento nosso e perder esta onda do Brasil, e não deixar legado nenhum desta nossa década.”
UM DEFEITO: “São vários: agir por impulsividade, que, aliás, é uma característica de gente criativa; outro é o de não conseguir lembrar as coisas na hora que quero. Tenho ainda uns outros defeitos que não vou entregar – são muito pessoais.”
UM DESPRAZER: “Desprazer pra mim passa ao léu: a minha vida é um prazer. O maior dos desprazeres é perder alguém querido, não só por morte; o outro seria o de ser indelicado ou machucar um amigo; apesar de raríssimo, acontece.”
UM INSUCESSO: “As pessoas me veem como um sucesso, mas são vários insucessos, como, por exemplo: sou um cara que esquece as coisas ruins. Não sou estressado, deve ser por isso. Costumo pensar das coisas boas pra frente. Insucesso? Sei lá, esqueci.”
UM IMPULSO: “Sempre tenho impulsos a cada coleção – é mais audácia, na verdade. Quando penso nos meus projetos, vou lá e faço, ainda que a muitos pareça que estou indo contra as tendências. E não me refiro só à moda; me refiro ao todo.”
UMA PARANOIA: “Nunca chego aos eventos na hora em que deveria, porém isso talvez seja mais um defeito do que uma paranoia. Minha maior paranoia é não suportar quem joga papéis ou cigarros nas ruas, além de achar o ato em si de última – dá vontade de pegar do chão. E não estou levando em conta a estética ou o aspecto moral: a atitude me incomoda muito. Jogar papel ou cigarro na rua é quase como cuspir.”
Lembro aquela do Alasca … era aniversário de 60 anos do Leonam e estavamos fazendo um churrasco de ‘alce’ que o Tim, nosso amigo local, havia caçado aquela semana.
O maior estilista do Brasil! O mais jovem e criativo, responsável por uma das melhores marcas brasileiras. Dá pra perceber, na entrevista, a dedicação que o levou ao sucesso.