Perguntei à Márcia Pinheiro — ex-estilista, que trocou um quarto cativo no Plaza Athénée, em Paris, e um apartamento em Nova York, além de uma casa no Jardim Pernambuco, por uma fazenda de 400 hectares na Mata Atlântica, com uma casa colonial do século XVII — sobre a troca da vida frenética da cidade para o campo; e também à chef Kitty Assis, que gosta de passar mais tempo na sua casa de praia em Trancoso, na Bahia, cercada por coqueiros, fugindo da vida agitada dos barulhentos bairros do Rio para ouvir o som constante das ondas do mar.
O que é para você uma casa simples e confortável?
Márcia Pinheiro: “Para mim, simplicidade é relativa a cada um. Sempre me considerei a maior visita em minha própria casa. Uso tudo, pois o dia em que não estiver aqui não vou levar nada. Gosto de sofisticação, mesmo quando estou sozinha, porque adoro o belo. Um dia, a namorada do meu filho foi jantar na fazenda e, vendo a mesa montada no jardim, com talheres de prata, copos de cristal etc., disse: ‘Sua mãe não precisa se preocupar comigo, fazendo um jantar assim’. Mas meu filho logo explicou: ‘Ela come assim até sozinha'”.
Kitty de Assis: “Uma casa que me abrace com móveis e objetos que me toquem a alma. E com funcionalidade que me facilite a vida para tê-la sempre com amigos”.
Ao longo dos séculos, procuramos construir a casa ideal — aquela que traz identificação e bem-estar e traduza as várias linguagens do nosso vasto universo estético. Tudo isso sem deixar de lado as tecnologias de ponta, encaixadas de forma discreta, para proporcionar todas as facilidades possíveis, enfim, um local que nos envolva e transforme tudo numa experiência singular e acolhedora.
Pensando e trabalhando num projeto sobre a casa ideal, voltamos sempre aos conceitos iniciais que definiram a necessidade da sua criação. Esse núcleo poético e sólido que se chama lar, onde nos sentimos protegidos e livres, segue em constante evolução, dependendo das tecnologias, formas, designs e desafios.
Apesar da complexa sofisticação da nova sociedade tecnológica, o conforto está diretamente associado à simplicidade. A simplicidade não é aquela totalmente despojada de beleza ou poesia, básica ou austera, mas que gera sensação de bem-estar. A simplicidade confortável está nas escolhas e na nossa forma de nos comportarmos em sociedade. Também não está associada a humildade, mas a segurança e a certeza do que gera o nosso bem-estar e o dos outros.
A casa simples pode ser altamente sofisticada, mas de forma espontânea e natural, criando um ambiente que nos envolve. A inquietude dos novos tempos nos impõe um ritmo quase frenético, mas é na simplicidade que encontramos a calma tão necessária, e ela pode estar em formas plásticas complexas. Experimentamos a simplicidade de forma completa na natureza, ou seja, ela não está no estilo da ambientação, mas no conforto.