A coreógrafa Deborah Colker, que quase foi impedida de embarcar em um voo que saiu de Salvador com conexão no Rio, nessa segunda-feira (19/08), por estar acompanhada de um neto (Theo Fulgêncio, de três anos) com doença na pele, acaba de publicar em sua página no Facebook um desabafo da sua filha, Clara Colker, mãe da criança:
“Estava sentada ao lado da minha mãe e do meu filho, dentro do avião. Um funcionário me perguntou: “Você tem atestado?” Falei: “Do quê?”, “Do medico sobre a criança”, apontando na cara do meu filho. Falei: “Ele esta bem, tem um problema genético, sou mãe dele e responsável por ele. Insatisfeito, o cara foi até a cabine. Voltou uma funcionária. O constrangimento começou. Falei em tom já ríspido. Ele é o meu filho e não tem problema nenhum em viajar – sua doença não é contagiosa e ele está bem. Já viajei inúmeras vezes com ele para dentro e fora do Brasil. Nunca passei por isso. Basta olhar para mim, para o pai e para o avô que vivem agarrados nele e não têm nada. Falei pra Peu (Peu Fulgêncio, pai da criança) filmar o que ela ia dizer. Na hora, ela disse que não falaria se fosse filmada e que não podemos filmar. Neste momento, uma mulher a três filas de distância grita pra mim: “Chama o Ministério Público! Isso é preconceito e discriminação!” Comecei a chorar. O Theo vendo isso tudo. Surreal. A funcionária saiu. Ficou 10 minutos fora. Jurava que o avião seguiria viagem e ainda falei: “Deviam pedir desculpas para o Theo e para mim”. Volta a funcionária, dizendo que o avião só iria partir com aval do médico. As pessoas começaram a se manifestar muito. Minha mãe, que estava controlada até então, levantou. Afinal de contas, meu filho passaria por uma análise de um médico que iria até nosso assento para avaliá-lo! Q médico chegou e falamos: “Ele tem uma deficiência genética: epidermolise bolhosa! E o médico fala: Ah! Epidermolise bolhosa! Não tem problema nenhum”.
E Clara continua: “O cenário dentro do avião era: quase todos passageiros em pé, indignados, vindo falar comigo, com meu filho. Superchateados. Muitos tinham conexão e estavam perdendo suas conexões. Já tinham 40 min de atraso. O médico foi falar com o comandante. Mesmo assim, o comandante disse que nós só viajaríamos se ele, o médico, fizesse atestado. Aí não tinha papel, não tinha carimbo… Pegou um papel branco sem nada timbrado e fez o atestado. Minha vontade era descer do avião e quando disse “quero sair daqui”, a mesma mulher, a primeira a gritar sobre o MP, disse que se nós saíssemos do avião, todos desceriam conosco. Me sensibilizei demais. Estavam todas as pessoas do avião supersolidárias, preocupadas com o constrangimento com o Theo. Resolvi ficar no avião. Nisso, já passava 1 hora de atraso e o constrangimento mega. Theo me viu chorando. Tentei disfarçar que o avião inteiro não estava atrasado por causa dele. Sei que ele percebeu. Sei que ele é mais forte do que esse bando ignorante. Estou muito triste.Chegaria ao Rio às 13h50; chegamos às 16h10. Como deve ser abordada uma pessoa com um problema de saúde aparente?”
A nota da empresa de aviação, nessa segunda-feira (19/08), foi esta: A GOL preza pelo respeito aos clientes e as normas de segurança. Em relação ao voo G3 1556 (Salvador/BA – Rio de Janeiro / RJ), esclarece que está analisando o ocorrido e tomará as medidas cabíveis.
Queridas, Debora e Clara como mãe e avó, estou solidária com sua revolta, mas feliz em perceber que somos um povo solidário, amável e prestativo uma prova disso foi a total revolta dos passageiros com o ocorrido, sinto pelo seu netinho os momentos de insegurança e medo em estar em uma situação tão delicada, mas sei que ele estava todo tempo seguro pela força da família. Acredito que uma situação como essa acontece porque hoje não temos pessoal preparado para lidar com o público e porque todos os serviços de atendimento em nosso País esta muito precário de conforto, material humano e respeito ao nosso povo massacrado em impostos e sem muitas alternativas apenas sofrer com esses abusos que nos causam muita tristeza, mas sei que no seu caso graças a Deus tudo acabou como deveria ser, com solidariedade e mais o reconhecimento de todos com esse caso desastroso, um grande abraço e saiba que adoro ver você mostrar sua capacidade de se dar ao público com o respeito que o público merece, isso só vem de pessoas com princípios e respeito ético muito em falta em nosso País.
O estrago poderia ter sido ainda maior, não fosse vc uma pessoa tão querida e respeitada neste país. Fico imaginando quantos desconhecidos já não passaram por situações parecidas e sem condição de se fazer ouvir.
Receba minha solidariedade.
Cláudia
O estrago poderia ter sido ainda maior, não fosse vc uma pessoa tão querida e respeitada neste país. Fico imaginando quantos desconhecidos já não passaram por situações parecidas e sem condição de se fazer ouvir.
Receba minha solidariedade.
Maguise
Eu penso que esse lastimável episódio aconteceu por um total despreparo não só da tripulação, como da própria empresa de aviação em lidar com os passageiros que a escolheram e nunca iriam imaginar passar por um constrangimento desse tipo.
O pior contágio neste avião já havia se instalado que é o do preconceito, falta de educação e falta de conhecimento total dos direitos de uma criança em ir e vir. Este tipo de constrangimento será mto mais nocivo a criança do que aos adultos que ali se encontravam, pois os adultos verbalizaram sua raiva, mas a criança acuada, silenciou-se no colo da mãe, sem direito a defesa.
O próprio médico que fez o atendimento poderia ter deixado claro que a criança não portava uma doença contagiante, senão claro, não estaria ali. Quem diz que por baixo das roupas dos adultos, tbem não podia se esconder manchas na pele contagiantes???
Eu processaria todos que ofenderam a mim e ao meu filho. Sou Psicóloga e deixo claro que este tipo de comportamento pode sim interferir no comportamento de uma criança pelo resto de sua vida.
Desculpe-me, mas a mãe deveria andar com atestado na bolsa. As marcas das lesões são aparentes, as pessoas não têm obrigação de saber que é uma doença genética não-contagiosa.
Concordo com a postura da Gol, pela segurança de todos. Porém discordo com a rispidez e constrangimento.