“Vai passar! A coisa não é comigo. A culpa não é sua, nem minha… O problema são esses caras, com suas gravatas, famílias e pistolas. Mas vai passar… Coragem!”, disse Fernanda Montenegro ao ator e bailarino cearense Francisco Thiago Cavalcanti, que chegou a se ajoelhar ao lado da atriz. “Pedi perdão por nossa desumanização, por esses tempos obtusos, regidos pela ignorância e truculência”, disse ele. Ou à jornalista Thais Martinelli, depois de cindo horas na fila: “É, minha filha, tem que ser assim. A gente não vive sozinho”.
E, assim, com atenção a cada uma daquelas pessoas, número nunca visto na Travessa do Shopping Leblon, mas a atriz mostrou um fôlego incrível ao passar mais de quatro horas autografando “Prólogo, Ato, Epílogo”. Em vez de festa, ela escolheu a literatura para comemorar os 90 anos. Mas não acabou, por si, virando uma festa? A partir das 3 da tarde, começou a chegar fãs, e todos paravam para admirar a vitrine montada pela livraria, com fotos da carreira da atriz, antes de pegar as senhas.
Às 7 em ponto, Fernandona entrou com tudo e vestida de vermelho, a cor da paixão, que, ainda por cima, aumenta o metabolismo. E não faltou olho no olho, pedido de abraço, beijo na testa, mãos na cabeça num gesto de bênçãos e, claro, declarações de amor, entre as mais de 500 pessoas. “Ela já passou por milhares de governos, modas e, com 90 anos. ela é uma mulher do presente, não do passado”, repetiu Fernanda Torres sobre a mãe, que só saiu de lá depois da última canetada, às 23h30.