Para muitas pessoas, falar sobre decoração é algo supérfluo ou mesmo desnecessário. Esquecem-se, porém, de que, desde muito cedo, ainda nas cavernas, já procurávamos desenhar nas paredes, para marcar nossos feitos e imprimir nossa marca.
Nossos gostos pessoais vieram com o tempo, com a casa unifamiliar. Um olhar específico se desenvolveu, marcando nova fase na evolução da casa.
Sempre evoluindo, o que chamamos de lar passou por muitas transformações até chegarmos ao conceito de “decoração”.
Foi no século XVIII que a decoração aparece como atividade desenvolvida por profissionais específicos, principalmente durante a Idade Moderna com a Revolução Industrial.
Dentre muitos talentos, encontrei uma decoradora de 1907 incrível e moderna. Vale a pena conhecê-la já que mudou o olhar sobre a decoração; até hoje, usamos muito do que ela nos deixou. Elsie de Wolfe (1865-195), atriz, decoradora de interiores e uma figura de destaque na sociedade nova-iorquina, viveu entre os Estados Unidos e a Europa. Ela costumava dizer que a decoração tinha três premissas: simplicidade, funcionalidade e proporção. Essas noções transformaram o conceito do design e da decoração da época.
Um dos grandes feitos foi usar algodão como tecido para forrar sofás, poltronas, paredes etc. Antes, o algodão era visto como um material simples e de pouca ou nenhuma sofisticação. Elsie viu, pela primeira vez, em 1808, esse tecido rústico e natural e confortável em algumas casas inglesas. Através dessas memórias afetivas, ela começou a usar essa matéria-prima na decoração da sua própria casa. Para espanto de muitos, ela forrou, com tecidos de algodão, sofás e paredes do Colony Club, em NY, um dos seus maiores trabalhos.
Foi um choque para os sócios de sobrenomes importantes à época. Elsie ganhou, então, o título de “Lady Algodão”, tanto por simpatia quanto por ironia.
Em 1912, Elsie era a única decoradora mulher dos EUA, e seus “panos pra manga” deram no livro “The House in Good Taste” (ou “A casa de bom gosto”), além de escrever artigos sobre decoração numa revista popular. Pioneira e criativa, Elsie deu importância e significado de bem-estar com sofisticação e simplicidade para a decoração. Muitas vezes, ela se associou a arquitetos; juntos, criavam projetos inteligentes, práticos, simples e elegantes. Seus clientes eram nomes importantíssimos na cidade, tais como: Amy Vanderbilt, Anne Morgan e o duque e a duquesa de Windsor.
Mas foi através do encontro com Henry Clay Frick (industrial americano e patrono das artes, conhecido em certo momento histórico como o “homem mais odiado da América”), que ela ganhou fama decorando a casa na 5ª Avenida em NY, hoje o museu Frick Collection , onde podemos ainda ver alguns aspectos da sua decoração.
Alguns fatos curiosos surgiram desse trabalho:
– Sr Frick, por exemplo, ofereceu a Elsie 10% de comissão em tudo que fosse comprado por ele e não pelos fornecedores.
– Quando ela mostrava um desenho, dizia “Sr Frick, quando eu apresento uma planta, não existe segunda opção. Existe apenas o melhor!”.
Viva Elsie, a elegante “Lady Algodão”!