Edgar Moura, entre os maiores diretores de fotografia do nosso cinema, é autor de “50 anos Luz, Câmera e Ação” (editora SENAC), usado em universidades como referência. Carioca, formado pelo Institut National Supérieur des Arts du Spetacle de Bruxelas, foi professor de fotografia tanto no Rio como em Moçambique, e já fez trabalhos para o cinema também na Europa. Na televisão, assinou: “Primo Basílio” (1988), “A.E.I.O.Urca” (1989), “Anos Rebeldes” (1992), “A Justiceira” (1997) e “A Vida Como Ela É” (1996/99). No cinema, “Kuarup” e “A Queda”, de Ruy Guerra; “Cabra marcado para morrer”, de Eduardo Coutinho; e “Tieta do Agreste”, de Cacá Diegues – essa lista pode ser bem grande, ou seja, o cara tem currículo. Mostrando, dirigindo, ensinando um pouco do que sabe, Edgar acaba de lançar mais um livro, “da Cor”, indo além da técnica – talvez por isso mesmo, o escritor Gilberto Braga tenha dito na abertura: “O livro é técnico, mas tem arte”. Ali também não falta humor. Ainda praticamente nas fraldas, Edgar foi cartunista do Pasquim. Leia sua entrevista!
O que acha dessa obsessão em usar o celular para registrar tudo? A pessoa vai na esquina e faz selfie, vai num show e tem que filmar…
“Não parece, mas fotografar leva muito tempo. E pressupõe ir até onde o assunto está. Levar a câmera. Estar lá. Como as câmeras entraram nos celulares, e os celulares diminuíram tanto de tamanho que entraram no bolso, todo mundo pode fotografar sem nem sair de si (selfies) ou descobrir assuntos que nunca tinham sido fotografados antes (como os próprios pés)”.
Os programas computadorizados já são capazes de substituir quase todos os filtros e recursos de iluminação usados pelos diretores de fotografia?
“A essência da ‘direção de fotografia’ é a direção da luz. E isso não é um trocadilho. Escolher onde colocar os refletores e qual intensidade eles devem ter, é o trabalho principal do diretor de fotografia. O que o Instagram chama de ‘filtros’ é o trabalho de outro tipo de fotógrafo, o pós-fotógrafo, o chamado ‘colorista’. É o colorista quem ‘finaliza’ a foto. Mexe nas cores e nos contrastes da fotografia original. Isso, ‘finalizar’ uma foto, é o que na profissão chamamos de “‘Correção de Cor / Color Grading’ e é o assunto principal do livro ‘da Cor’ .
A filmagem em HD é realmente ingrata com as mulheres? As atrizes reclamam muito?
“O que os fotógrafos chamam de ‘suporte’, HD, SD, filme etc. não tem culpa de nada. A culpa é da luz, se for mal feita, ou, a seu crédito, se o fotógrafo souber usá-la”.
Onde você, que foi cartunista do Pasquim, exerce mais seu humor atualmente?
“No site ‘Edgar Moura – Desenhos’ no Facebook. E olhe lá. Quer dizer, olha lá”.
Qual a sua explicação para a fotogenia, esse mistério que faz uma pessoa se destacar diante das lentes ?
“Não ter medo dela, da câmera. Ser como as crianças e os cachorros que não fazem ‘pose’ para serem fotografados”.
Na sua carreira estão desde filmes mais comerciais, populares, a filmes mais tipo cabeça. O que é necessário para um diretor de fotografia se afinar bem com o diretor do filme?
“Aí, sim, é um mistério. As duplas diretor/fotógrafo que se deram bem fizeram grandes filmes. Glauber e Dib Lutfi são um exemplo. Fernando Meireles e Cezar Charlone, outro”.
Como está o Brasil em matéria de profissionais da cor no audiovisual? A fotografia brasileira tem seu reconhecimento no exterior?
“Grandes filmes têm grandes fotógrafos. Ao sucesso. O sucesso leva consigo toda a equipe. No Brasil e em qualquer lugar. Estão aí o ‘Cidade de Deus’ e os ‘Tropa de Elite’, que levaram seus fotógrafos para o mundo”.
Um diretor de fotografia pode viver bem (com relação ao lado financeiro) da sua arte por aqui?
“Sim. Vive-se bem como diretor de fotografia. O difícil é tornar-se diretor de fotografia. É um longo caminho feito através de bons longa-metragens. Fazer o primeiro longa-metragem, que seja bom e visto por muita gente, é o que, na verdade abre as portas para se tornar um diretor de fotografia que viva bem… aí, é bem mais difícil”.
‘Imagem é tudo e o resto é quase nada’ – essa frase é absolutamente fiel à realidade?
“A verdade é que ‘uma imagem sem texto não quer dizer nada’. Uma fotografia sem texto é só um instantâneo, ou seja, é uma imagem extraída do contexto. É claro que a frase ‘Imagem é tudo e o resto é quase nada’ não se refere à fotografia em si e sim à ‘imagem pública’ de uma pessoa. É o que no mundo do rock’ n’ roll chamam de ‘atitude’. Aí, sim, aí ‘imagem é tudo'”.
E o livro novo, a quantas anda?
“Como disse o Gilberto Braga no prefácio: ‘O livro é técnico, mas tem arte’. Sendo assim, tendo um pé em cada lado da fotografia, o livro ‘da Cor’ anda bem, vai na direção da curiosidade de quem quer saber mais sobre fotografia. Fotografar melhor”.