Eu me mudei do Rio para Brumadinho, há três anos, com a minha família (meu marido e duas filhas). Moramos em um sítio, ao pé da Serra do Rola Moça. Vim em busca de uma vida mais tranquila, mais sustentável, e o que encontrei foi muito mais do que isso. Encontrei uma comunidade. Amigos que se apoiam, pessoas gentis, a prosa que nunca acaba, o sorriso constante…
No entanto, também deparei com uma outra realidade: a de um lugar que, durante muito tempo, dependeu da mineração. A principal atividade de Brumadinho foi a mineração, até que o Instituto Inhotim foi inaugurado e empregou muitos moradores do seu entorno, transformando o turismo em um setor importante da região. Trabalhei como gerente de Turismo e Eventos no parque do Instituto. Pude então perceber a dificuldade dos empreendedores locais em fazer seus negócios prosperarem e, também, um certo descaso dos agentes governamentais em investir no imenso potencial da região, que, além do Inhotim, tem cachoeiras, voo
livre, fauna e flora deslumbrantes, e um povo acolhedor.
Dessa forma, a mineração continua tendo seu papel de relevância na economia local, e isso sempre me incomodou – ver as montanhas rasgadas, destruídas…, mas não ao ponto de agir. No ano passado, conseguiram uma licença para explorar uma mina na Serra do Rola Moça, ao lado da minha casa. O movimento SOS Rola Moça fez de tudo para impedir, mas não adiantou; poucos se mobilizaram de fato, inclusive eu… E passou…
Ontem (sábado – 25/01) por volta das 14h, recebi um vídeo em um grupo de WhatsApp da região, dizendo que uma barragem tinha sido rompida no Córrego do Feijão. Me assustei. Rapidamente, começaram a chegar notícias de outras barragens que poderiam se romper. E eu, por ignorância, me desesperei. Não sabia onde estariam essas barragens, se minha casa poderia ser atingida; alguns diziam que sim, outros, que não. Enfim, por via das dúvidas, saímos de casa com a roupa do corpo para o topo da serra, onde poderíamos pensar e agir com mais clareza. Foram momentos iniciais, pautados pelo instinto de sobrevivência.
Passado algum tempo, nos informamos e vimos que realmente não corríamos risco. Moramos a 10km do local, mas estamos acima.
E começaram a vir notícias de que famílias estavam vindo a pé em direção ao nosso bairro, chegando desamparadas… Daí, começou a surgir o instinto de solidariedade. Estávamos em um supermercado e, rapidamente compramos mantimentos e articulamos para que eles fizessem uma doação também. Seguimos em direção aos que precisavam, em direção à dor.
Isso despertou algo em mim: essa responsabilidade também é nossa. A impunidade só existe, e esses crimes continuam acontecendo porque nós, coletivamente, não fazemos nada! Ficamos de braços cruzados, atrás dos nossos
computadores e das nossas redes sociais, onde um assunto substitui o outro em um piscar de olhos. E as pessoas estão morrendo. Senti o cheiro da morte, do descaso, da falta de humanidade e da ganância. Hoje, resolvi ir até o Córrego do Feijão, onde tudo aconteceu. Levei comida, levei água e produtos de higiene. Era um cenário desolador, um “vale de lama”!
Rita Grassi é produtora e mestrada em Ciências da Religião.
Até quando estaremos adormecidos neste sono do Espirito? até quando estaremos esperando que desastres aconteçam para levar uma cesta básica e então estarmos confortados com a nossa boa Obra?
Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;
Mateus 6:2,3
Muitos usam estes eventos para se promover e isto é uma lástima.
Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita;
Mateus 6:2,3