O debate da maturidade virou o hotspot da temporada. A sequência de “Sex And The City” (HBO Max), a personagem Rebeca de Andréa Beltrão na novela “Um lugar ao Sol”, atrizes famosas abordando a menopausa, a falta de libido e, mais recentemente, a explosão de mulheres inteiras, saradas e desejadas, deixando seus cabelos brancos, as novas grisalhas flamulam a bandeira prateada.
Euzinha, do alto dos meus 57, já estou nessa há tempos. E foi um câncer que deu início a esse meu parlatório. Na contramão da beleza eterna, da vida perfeita, do sexo selvagem, tornei-me uma antiblogueira madura, uma “influencer ageless” às avessas. Falo de pentelho branco, transar com pau mole, viver na gangorra da pindaíba dos boletos, existir sem reposição hormonal e, mais recentemente, cobrando das autoridades, através de políticas públicas, um apoio à visibilidade aos 50 +.
Quando envelhecemos, ficamos invisíveis, e eu não nasci para as trevas.
Mas tem muita patrulha, de um lado e do outro. Nunca fui padrão. Na maturidade, dei uma desbundada ainda maior e virei uma Greta velha. Como você ousa falar assim comigo? Já era de excessos e hoje dou de ombros para críticas e caio de boca em meus textos sobre a importância da liberdade na maturidade.
Mas é importante frisar que não é porque estamos envelhecendo (eu quase sessentona), que não vamos nos cuidar. Sou super a favor de tirar uma ruga aqui, esticar o pescoço ali, dar uma bombada em peitos, bundas, coxas e braços. Não acho que debater a maturidade precise de um dress code amendigada, de uma pele despencada ou uma atitude tô-nem-aí.
Eu mesma tenho dado uma recauchutada na cara. Fiz meu primeiro Botox ano passado, e tenho vontade de dar uma segurada nas rugas. Quero experimentar uma máquina pra fixar a pelanca do braço e vou usar um laser vaginal pra dar um up na perereca. Não pode? É politicamente incorreto? Temos que ficar velhas e desabadas para sermos críveis no debate da passagem do tempo?
Sou contra; aliás, sou contra qualquer patrulha.
E hoje somos um grande público consumidor de produtos e experiências. Segundo o IBGE, dos 210 milhões de brasileiros, 40 milhões têm acima de 60 anos e, em 2050, esse número vai duplicar. Seremos um exército cinza com fome de consumo juvenil.
De vibradores ao mercado imobiliário, passando por consumo de beleza e saúde, alimentação e turismo, estamos ainda muito pouco trabalhados pela propaganda brasileira. Quando somos retratados, aparecemos como velhinhos senis ou apequenados em nossas idades.
Alô, estamos no Tinder! Estamos na pista. Estamos barbarizando. Precisamos ser representados com a atualização necessária. Fazemos tatuagens, praticamos esportes radicais, damos gostoso e estamos nos divertindo. Claro que existem os menos favorecidos, com os achaques da idade e as mazelas de uma não educação financeira, empobrecidos em sua maioria.
Mas atenção, a velhice mudou! Somos novos maduros. Somos seres transformados pelo avanço da ciência e da tecnologia.
Deixem as maduras em paz… Botocadas ou não, gostosas ou largadas, grisalhas ou de cabelo pintado, siliconadas ou murchas, urge sermos livres e sobretudo vozes. Meu sonho atual é criar um coro potente, arregimentar mais mulheres maduras, potencializar nosso volume e mudar nossa invisibilidade.
Sim, eu existo. Sim, eu influencio. Sim eu falo. E fico muito feliz de ver as famosas Cláudia Raia, Maitê Proença, Angélica, Bruna Lombardi, Mônica Martelli, Glória Pires, Fafá de Belém, Rita Lee conversando sobre a passagem do tempo.
Quem vem com a gente?
Kika Gama Lobo, 57 anos, carioca, duas filhas, é dona do projeto Atitude50 e criadora do curso digital “Kikando na maturidade”. Toda quarta-feira, escreve na revista Cláudia Online e mensalmente, no site Inconformidades.