Neste momento importante da minha vida, chego aos 75 anos do Richet vivendo uma realidade completamente diferente da que poderia imaginar: um cenário que meu pai, Hélio Magarinos Torres, fundador da empresa, certamente não teria sequer como prever. Naquele 2 de janeiro de 1947, a especialidade Patologia Clínica despontava como uma das grandes promessas da Medicina. Agora, vemos seu papel primordial e indispensável no controle desta pandemia global. Afinal, se hoje conseguimos entender melhor esse vírus, como ele é transmitido, a situação epidemiológica de cada lugar, se conseguimos retomar algumas atividades em segurança e reencontrar nossos familiares, tudo isso só é possível porque existem os testes que fazem o diagnóstico primário e de controle da infecção.
Sempre quis ser médico, mas a Patologia Clínica surgiu em minha vida de forma inesperada, quando, aos 16 anos, perdi meu pai e herdei dele um microscópio da marca Wild, que me foi entregue ainda no quarto do hospital, pois, por incrível que pareça, ele levou o aparelho para continuar trabalhando enquanto estava internado. E trabalhou até o último instante, antes de ser operado, quando me entregou o microscópio e pediu que eu cuidasse bem dele. Hoje, sinto-me honrado por continuar a escrever, neste momento histórico da evolução humana, a história que meu pai começou.
Minha história se entrelaça com a do Richet desde que nasci. Durante a maior parte da nossa vida, fomos uma empresa familiar e, mesmo com a nossa entrada no grupo D’Or, em 2018, continuei a prezar pela manutenção dos valores fundamentais com os quais meu pai criou o laboratório: excelência técnica, conhecimento, transparência e ética. Neste cenário de guerra que vivemos, isso fez toda a diferença. Certamente, este foi o tempo mais desafiador da minha — e da nossa — história. Eu me vi, mais uma vez, como diretor-geral, diante de uma grande responsabilidade com as famílias dos colaboradores e a minha própria.
Não paramos. Foi um grande desafio continuar funcionando para atender à grande demanda e, ainda, cuidar da saúde de cada um dos colaboradores. Lembro-me da corrida para começar a realizar o exame de diagnóstico do coronavírus de forma rápida e acessível à população, das tantas adequações sanitárias que foram necessárias, das primeiras recomendações sobre o uso de máscaras, das primeiras doses da vacina chegando, dos primeiros testes diagnósticos e todas as dúvidas que ainda tínhamos.
Toda a equipe não mediu esforços e sentiu a responsabilidade de fazer parte como peça fundamental para o combate ao novo vírus. Essa tarefa nos manteve estimulados. Aprendemos novas práticas e formas de trabalho. Tivemos que lidar com a perda de pessoas queridas, com a incerteza diante de um resultado positivo na equipe, com o medo das incertezas futuras.
Em meio a esse desafio, realizei mais um sonho: a inauguração do centro de imunização, o Richet Vacina, em novembro de 2021. A pandemia nos ensinou a importância da vacinação, e poder inaugurar esse espaço, em meio a uma crise, foi ainda mais especial. Para garantir uma maior cobertura vacinal, decidi oferecer gratuitamente a vacina da quadrivalente da gripe para nossos colaboradores, parceiros médicos e pacientes, justamente quando o surto de gripe começou. Foram mais de 3 mil doses aplicadas.
Agora, em 2022, gostaria de comemorar, além dos 75 anos do Richet, o fim da pandemia. Mas celebro esse aniversário diante da incerteza de uma nova onda de contaminação, que ainda traz apreensões. Respiro, de certa forma, um pouco mais aliviado com a chegada da vacina para todos, especialmente agora, para crianças. No entanto, sei do nosso papel fundamental para passar à população informação de qualidade, principalmente quanto à cautela necessária para conter os números que seguem crescendo — apenas nesses primeiros dias de janeiro, tivemos um aumento de mais de 40% de positivos para covid e ainda casos de dupla infecção (covid + influenza H3N2).
Sei que ainda teremos dias difíceis e tantos outros desafios adiante, mas acredito que estamos mais perto do fim de tudo isso e seguimos firmes para o que for necessário.
Hélio Magarinos Torres Filho, patologista clínico e diretor-geral do Richet Medicina & Diagnóstico.