Toda vez que me vi explodir, foi por causa de uma gota d’água, ou seja, de um acontecimento em cima da acumulação de fatos anteriores que me incomodaram durante dias, semanas, meses ou até anos e que acabei suportando sem falar nada — para evitar uma briga, ou para não gerar constrangimento, ou por ser compreensiva e tolerante, ou por não saber como expressar meu incômodo, ou ainda por não ter consciência do quão estava incomodada.
A emoção que leva uma pessoa a gritar, geralmente, é a raiva; pode ser também o desespero. O certo, é que, por trás de um grito, de uma explosão, há necessidades frustradas, não atendidas: respeito, consideração, igualdade, justiça, verdade, honestidade, autonomia, liberdade, sustento, segurança… Muitas vezes, são valores, coisas que importam muito para aquela pessoa e podem deixar qualquer um engatilhado.
Segundo Marshall Rosenberg, o pai da Comunicação Não Violenta (CNV), “a violência é a expressão trágica de necessidades não atendidas”. As pessoas gritam porque não sabem mais como se fazer ouvir, compreender e respeitar.
Existem também pessoas que gritam como forma de dominar, intimidar, ter a última palavra e obter o que querem. Nesse caso, trata-se de uma “briga de poder” e de uma forma de manipulação. Espera-se que o outro fique calado e submisso.
Ter consciência desses dois aspectos me ajudou a desarmar conflitos e a evitar ser manipulada. Quando percebo que o outro está gritando de frustração, raiva ou desespero, procuro compreendê-lo e entender qual ou quais necessidades não estão atendidas, através da empatia e de perguntas abertas e genuínas. Isso costuma desarmar qualquer pessoa.
Quando percebo que o outro está gritando para me dominar e me manipular, procuro afirmar-me e não hesito em levantar o tom de voz se necessário, sem ofender a pessoa. Evito julgamentos, críticas, acusações, comparações e outros padrões de comunicação que alimentam a violência e não ajudam a resolver os conflitos. É por isso que eu sempre falo que a CNV não tem a ver com submissão nem passividade — muito pelo contrário.
Aplicar os conceitos da CNV nas nossas relações ajuda a ter diálogos construtivos, desarmar ou resolver conflitos sem se anular. Aprendemos a nos expressar de maneira consciente, clara, objetiva e assertiva, ou seja, nem submissa, nem agressiva. Esses conceitos são fundamentais para compreender nossos interlocutores, ser compreendido e ter relacionamentos pessoais e profissionais saudáveis e duradouros.
Se você gosta de leitura, recomendo dois livros relativamente fáceis de ler:
1. “Por que gritamos” da Elisama Santos (Editora Paz & Terra)
2. “O surpreendente propósito da raiva” de Marshall Rosenberg (Editora Palas Athena)
Boa semana!