Como detectar, se preservar e proteger as pessoas que você ama de psicopatas? Pode ser seu chefe, seu vizinho, sua mãe, seu marido, sua avó, seu médico, seu melhor amigo, ou até mesmo seu filho…
Ao longo da minha vida, convivi com alguns psicopatas e fui alvo deles, tanto homens quanto mulheres – desde um vizinho e amigo da família quando eu era pequena, até uma mulher que me procurou para me oferecer um emprego mais recentemente, entre outros.
O que me chamou atenção neles? Todos pareciam “pessoas comuns” e até muito gentis no início, como a maioria das pessoas. Trabalhavam e estavam inseridas na sociedade, vivendo “normalmente” — nenhuma de cara de monstro assustador nem de ‘serial killer’, pelo contrário. São gente sedutora, extremamente prestativa e encantadora de início e para quem não convivia na intimidade. Por trás das aparências e com as pessoas mais próximas, eram totalmente abusivas e destrutivas.
Essa fachada de pessoa gentil que conseguia enganar a maioria é que me deixou mais assustada e com vontade de falar a respeito, para gerar consciência para ajudar mais pessoas a enxergar e se defender. Acredito que só o conhecimento e consciência podem nos proteger e salvar. Sem conhecimento sobre esse tipo de perfil, as pessoas vão continuar a ser enganadas e não entenderão por que estão sofrendo tanto.
Entendi que a maioria dos psicopatas não têm uma aparência que permite identificá-los; eles simplesmente funcionam de uma forma diferente. Pensem, sentem e agem de maneira específica que segue um determinado padrão. Para que você possa se proteger e proteger seus filhos, amigos e familiares, precisa de um mínimo de conhecimento.
As pessoas psicopatas buscam três coisas e costumam ser dispostas a fazer de tudo para consegui-las, inclusive prejudicar conscientemente e intencionalmente outras pessoas: poder, dinheiro e diversão/prazer. Todas têm megalomania.
A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, no seu livro “Mentes Perigosas”, nos alerta: “O psicopata mora ao lado”. A psicopatia não é uma doença, e, sim, um transtorno de personalidade chamado “transtorno de personalidade antissocial”.
Existem vários graus de psicopatia: leve, moderado e grave. Segundo ela, a pessoa já nasce psicopata e tem alterações na estrutura cerebral em relação a indivíduos normalmente constituídos.
Porém, em função do ambiente em que se vive, é possível, desenvolver comportamentos psicopáticos. Em uma entrevista, Ana Beatriz mencionou alguns desses comportamentos e características que podem ajudar a detectar pessoas psicopatas ou no mínimo, perigosas:
1 — Por mais incrível que pareça, o início de uma relação com uma pessoa psicopata costuma ser muito maravilhosa. Tudo é bom demais e rápido demais! Você fica encantado(a) e não suspeita nada. A pessoa tem os mesmos gostos que você, pensa igual, etc… porque ela fez você falar e contar tudo sobre você pra ela, pesquisou você ou até soube por outras pessoas. Podem cobrir o outro de presentes, bajular, prometer a lua, encantar seus amigos, seu chefe, seus familiares…
Podem chegar à sua vida como “salvadores” ou como “martyrs”, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Tudo isso já serve de alerta. Cuidado com o veneno em frasco de remédio!
2 — Agem como camaleões. Eles se camuflam, disfarçam, criam identificação com as pessoas que querem manipular. Estudam, pesquisam e sabem tudo sobre os alvos deles. Se você ama cachorros, vão dizer que amam também, e não hesitam em mentir ou inventar histórias. Vão encontrar uma foto deles com o cachorro de alguém e dizer que foi deles, que o coitado morreu de tal ou tal forma, para gerar piedade. Assim, você baixa a guarda e não desconfia de que a pessoa é capaz do pior para chegar onde quer.
Atenção! A identificação de psicopatas não é visual. Fique atento(a) à combinação de ações maldosas disfarçadas e de forma recorrentes seguidas de encenação para gerar piedade. Depois de conquistar a sua confiança, não demoram muito a agir dessa forma.
3 — Por trás da máscara encantadora e de pessoa perfeita, cometem atos perversos que prejudicam outras pessoas (crueldade ou maldade para tirar algum prazer ou beneficio próprio). Os atos perversos são geralmente mascarados de boas intenções ou feitos de maneira escondida, dissimulada. De modo geral, os atos perversos da mulher podem parecer mais sutis, induzindo homens ou mulheres e até crianças a fazer o que elas querem para chegar aos seus objetivos.
4 — Fazem-se de inocentes e se vitimizam depois de aprontar. Ouça sua intuição quando achar que tem algo estranho e não duvide da sua percepção. Caso duvidar, converse com várias pessoas de confiança sobre o que aconteceu e, se possível, pessoas neutras que não estão sob o domínio do(a) psicopata.
Podem ser bem eloquentes e costumam mentir muito, inclusive, trapacear. São experts em manipulação. Sabem perfeitamente quando estão mentindo e manipulando você. Até você descobrir, pode levar muito tempo, pois são conscientes do que fazem e sabem dissimular. No entanto, ficando atento aos sinais e ouvindo a sua intuição, pode ser mais fácil e mais rápido descobrir. Se você tiver dúvidas, busque se informar sobre a pessoa e pesquise seu passado.
5 — Existem em todas as profissões. Algumas costumam ter maior concentração, como políticos, médicos cirurgiões, advogados, magistrados, treinadores de atletas…, pois podem propiciar muito poder e muito dinheiro. Segundo um estudo, existe também uma alta concentração na polícia, nos enfermeiros, professores e autoridades religiosas já que conferem poder sobre o outro, o que facilita a realização de atos perversos e cruéis de forma dissimulada, gerando confiança através de profissões “do bem”.
6 — Não sentem culpa, vergonha, arrependimento ou remorso quando fazem algo que prejudica alguém. A parte do cérebro que permitiria ter esse tipo de sentimento não está desenvolvida e ativada como em pessoas não psicopatas. Por isso não mudam nunca, apesar de dizer que não vão fazer mais quando são pegos.
7 — Buscam prazer imediato sem pensar muito nas consequências; por isso, podem trair facilmente. E se querem algo que não podem comprar, vão arrumar uma forma de alguém comprar para eles sem nenhuma vergonha.
O prazer principal da pessoa psicopata está em subjugar, dominar o outro. Não fique tentando entender por que a pessoa fez isso ou aquilo para prejudicá-lo(a) quando você não vê motivo. É da sua natureza e isso dá prazer a ela. Pode ser difícil compreender e aceitar, mas tem prazer no sofrimento do outro, muitas vezes por inveja e/ou para se sentir no controle.
8 — Não possuem princípios morais e éticos, mas têm perfeitamente consciência do que é “certo” e “errado”. Podem ser estelionatários, viver dando golpes.
9 — Não têm afeto real pelos filhos (aliás por ninguém) e os usam para se fazer passar por bons pais ou boas mães e ganhar espaço na sociedade. Tudo é uma fachada, mesmo os comportamentos aparentemente ”legais”. No fundo, só fazem coisas boas para manipular as pessoas e alcançar seus objetivos. Têm uma incapacidade de amar e de mudar. Portanto, não perca seu tempo com essa pessoa nem tentando curar ou mudá-la. Com animais, a criança psicopata (embora não se possa dizer de uma pessoa que é psicopata antes dos 18 anos) costuma demonstrar uma curiosidade mórbida e pequenos atos cruéis. Uma vez adulta, pode ter um bicho de estimação para exercer seu poder sobre ele e alimentar sua fachada de “boa pessoa”.
10 — Caso forem criminais e estiverem internados no manicômio judiciário (hospital para doentes mentais criminosos), costumam manipular, dominar e sair facilmente.
Ou seja, as pessoas psicopatas fazem coisas estranhas que percebemos, mas, muitas vezes, não ouvimos a nossa intuição ou não queremos ver por não saber como lidar.
Além disso, a nossa cultura costuma minimizar a gravidade de determinados atos de violência sútil, dissimulada e silenciosa, alimentando e permitindo o crescimento dessas pessoas na sociedade e em posições de poder.
Precisamos reclamar menos e nos informar mais. Como diria a psicóloga Sílvia Malamud, especialista em relacionamentos abusivos, “quanto mais despertos, melhor!”
Precisamos buscar conhecimento e autoconhecimento para saber que parte de nós acaba sendo conivente com determinados comportamentos, por ignorância, conveniência, vício ou até medo.