O biólogo Mario Moscatelli já esteve com o coração apertado inúmeras vezes, nesses mais de 30 anos dedicados ao meio ambiente: já foi ameaçado e até meio “invisível” aos olhos de alguns governantes. Com tanto amor à natureza e tudo o que ela oferece, está arrasado com as queimadas na Amazônia.
Nos sobrevoos que faz pelo Rio, através do projeto “Olho Verde”, há 20 anos, Mario vê o drama e a degradação no seu dia a dia: “O Rio também é a Amazônia. Por aqui, no campo urbano-ambiental, nossa cidade, historicamente, é o exemplo de tudo que não se deve fazer com um ambiente naturalmente belo e vulnerável”.
Qual seu sentimento, como biólogo, vendo esses acontecimentos na Amazônia?
Cansaço, perplexidade e tristeza. Lembro-me bem dos anos setenta, vendo “Amaral Neto, o Repórter” mostrando as máquinas derrubando aquelas árvores imensas e minha mãe resmungando que aquilo não era direito. Era a época do milagre econômico, época em que a floresta precisava ser dominada e dar espaço para o progresso. Pois é, deu no que deu. Cansaço, pois os problemas ambientais nesse lugar parecem se repetir sem perspectiva de “inovação”. São sempre os mesmos problemas, com períodos de melhoria no varejo e novamente de piora no atacado. Incrível como, em outros lugares deste planeta, tem gente viabilizando colonizar Marte e, por aqui, continuarmos pensando e agindo como uma colônia de exploração do século XVIII quando o tema é ambiente! Perplexidade, pois é inacreditável como ninguém alertou o presidente sobre as consequências de suas falas e ações nos primeiros meses de governo, no sentido de incentivar os delinquentes ambientais que agem na Amazônia. Perplexidade diante das polêmicas improdutivas e sem fim com o Inpe a respeito da situação que hoje se observa fora de controle, bem como das causas do incremento dos incêndios sejam eles da tipologia que forem. Perplexidade pela morosidade, apatia, imobilidade do governo em tomar alguma atitude prática para controlar minimamente a situação, além de polemizar. Finalmente, a maior das perplexidades foi o governo não ter tomado ciência das consequências econômicas associadas às outras nações, em forma de retaliações dos produtos brasileiros. Em resumo, criou-se, por miopia, soberba, arrogância e empáfia, uma tempestade perfeita em que um assunto doméstico se transformou numa potencial crise econômica e diplomática internacional. Ruim demais! Tristeza, por ter consciência de que a Amazônia é também aqui no Rio, cidade que matou praticamente todos seus rios em detrimento dos interesses econômicos e políticos de grupos públicos e privados, onde o crescimento urbano desordenado engole sistematicamente as matas das encostas dos maciços da Pedra Branca e da Tijuca e as comunidades vegetais das baixadas, gestando futuras tragédias. Enfim, a cultura que destrói a Amazônia é a mesma que, na região urbana, destrói os ecossistemas costeiros de nossa cidade e região metropolitana. A cultura do pau-brasil – de usar até acabar – não respeita leis e muito menos o futuro.
O Presidente Bolsonaro responsabiliza principalmente as ONGs que “perderam grana”, como um boicote ao seu governo. O que você diz sobre isso?
O presidente precisa mostrar as provas. É inconcebível que o Presidente da República lance uma grave acusação desse tipo sem ter provas, pois, caso seja verdade, as pessoas envolvidas precisam ser identificadas e presas! Mas é fundamental que o senhor presidente apresente as provas desse crime hediondo principalmente se cometido por quem deveria proteger a floresta. Está nas mãos dele mostrar de onde saiu essa informação. Por enquanto, sem as provas, essa fatura sem data para acabar fica na conta dos delinquentes de sempre da região e da imobilidade do governo.
O que isso significa para o Rio?
O Planeta é um só, e tudo que afeta um ou mais dos grandes sistemas planetários que funcionam como sistemas integrados de homeostase (equilíbrio) tem consequências que, muitas das vezes, nem mesmo o mais potente dos computadores pode prever a resposta; afinal, são alguns bilhões de anos de tentativa e erro para a produção do que vemos hoje. Destaca-se que a civilização como a conhecemos é produto direto dessa estabilidade climática e que, sem ela, a situação da espécie humana poderia ser muitíssimo diferente. “O Rio também é a Amazônia”; por aqui, no campo urbano-ambiental, nossa cidade historicamente é o exemplo de tudo que não se deve fazer com um ambiente naturalmente belo e vulnerável. Década após década, como na Amazônia, por aqui os problemas são praticamente os mesmos: falta de saneamento, crescimento urbano desordenado, degradação dos ativos econômico-ambientais da cidade, nada muda. Sai e entra governo, e praticamente nada se resolve estruturalmente. Temos eventos megalomaníacos que não trazem nenhum benefício ambiental para lagoas, rios e baías, e, mesmo assim, eleição após eleição, com as mesmas caras ou com caras diferentes, os erros se repetem, assim como os eventos também. Chama minha atenção, no caso especial do carioca, mesmo com as sistemáticas denúncias pela mídia, que a sociedade não se importe com esses problemas ambientais. Hoje acontecem as manifestações a favor da Amazônia, fato que eu acho ótimo. No entanto, fico mais uma vez perplexo pela passividade dos mesmos cariocas em marcha pela Amazônia quando o assunto é a destruição de nossos ecossistemas costeiros — poucos se mobilizam e pagam caro por essa mobilização! A Amazônia é fundamental, porém nossos ecossistemas costeiros também o são, pois vivemos neles e dependemos deles, apesar de não terem o glamour amazônico. Destaco que já vi top model internacional chorar pela Amazônia anos atrás, sem dar a menor bola à moribunda lagoa de Jacarepaguá bem ao lado da moça em mais um megaevento. Já passou da hora de se entender que o tema ambiente não é ou não pode ser só marketing pago a peso de ouro. Não tenho dúvida que aquelas lágrimas saíram caras.
Quanto a flora e fauna, quais perdas tivemos? Para algumas espécies é irreversível ou está seguro?
Não tenho nem como imaginar o que se está perdendo, neste momento, em função do atual período de incineração da floresta. Primeiro, porque cada um fala uma coisa, e não se chega a um número definitivo, confiável, tampouco quais tipos de comunidades vegetais e estado de conservação delas foi afetado. Segundo, porque muitas plantas e animais que nem são conhecidos estão sendo incinerados, visto que o que importa, num lugar que continua pensando e agindo como colônia de exploração, é tirar o máximo possível no menor prazo possível e com o menor custo possível. Portanto acho difícil alguém informar o que está sendo perdido, tanto por falta de exatidão nessa guerra de informação e contrainformação como pelo desconhecimento do que existe de fato na floresta. Existem endemismos que dependem de áreas restritas dentro de determinados ecossistemas presentes nos diversos biomas. Logo, se aquele trecho (extensão de floresta) com determinadas características desaparecer, serão extintas as espécies restritas às condições ambientais destruídas, onde se troca biodiversidade de valor econômico incalculável por pasto ou plantio – uma troca burra, economicamente falando.
Quais as consequências globais?
Antes das consequências globais, tudo leva a crer, segundo previsões de climatologistas, que a consequência será regional no padrão de chuvas afetando diretamente a vulnerabilidade das grandes cidades e as atividades agropecuárias, atividades essas que mantêm o PIB nacional ainda na UTI, com alguma perspectiva de melhora. Globalmente, de uma forma bem geral, a floresta Amazônica funciona como um enorme termostato e, à medida que se reduz a capacidade de esse termostato funcionar, alteram-se padrões climáticos, que, repito, nem os maiores computadores podem calcular como virá um novo equilíbrio diante de tantas ações humanas “bombardeando” os diversos sistemas de equilíbrio planetário. Francamente, desconheço o que vem por aí, mas sei que não será bom. Finalizo, destacando a falta de tato, a imobilidade do Governo brasileiro no que diz respeito à atual crise, atraso no trato da questão ambiental de uma forma geral e sua miopia em relação às potenciais retaliações econômicas de outras nações, compradoras de produtos brasileiros. A maior parte da floresta Amazônica está no território brasileiro, no entanto, pelos serviços ambientais que ela presta ao Planeta inteiro, as autoridades brasileiras precisam tomar cuidado com seu atual discurso e prática, completamente fora do atual contexto internacional, em que não há espaço para gente inocente, de língua solta, sem medir as consequências de suas falas, pois, nesse jogo, não há mocinhos, apenas grandes tubarões ávidos por qualquer deslize de administradores/gestores pouco preparados. Há, sem dúvida, interesse ambiental, mas, também, claros interesses geopolíticos e econômicos; portanto não há espaço para amadores.
Até o momento, o melhor discurso e visão realista que li sobre nossa triste realidade, pois como brasileiros nosso pseudo-ufanismo só se manifesta na copa do mundo.Sinto vergonha quando passo na lagoa Rodrigo de Freitas e vejo o descaso tanto das nossas “autoridades” quanto dos falso bacanas que moram no entorno da lagoa.Continuam a poluí-la impunemente e nem se importam com o futuro do local.Somos cidadãos atrasados,irresponsáveis,acomodados e bem merecemos o desprezo dos povos civilizados.
Para mim a amazônia é importante MAS NÃO TANTO ASSIM como dizem, estão lhe dando muito valor e o que estão fazendo agora é apenas um estardalhaço por que o atual governo não quer fazer parte da IGREJINHA EXISTENTE e esta corrigindo desmandos e m ais desmandos e assim unem se todos, a turma do quanto pior melhor, a turma dos fanáticos, a turma dos aproveitadores de plantão e a IMPRENSA que também sempre gostou e gosta do quanto pior melhor e os maiores culpados são os que lá residem e estão la por 24 horas e são os que fazem as maldades e as autoridade municipais, estaduais e federais de lá que nada fazem contra tais crimes, E se vão mandar o vil metal para lá, que tratem de PEDIREM PRESTAÇÃO DE CONTAS pois senão acontecerá como sempre desaparecera e tudeo continuará na mesma podendo até a piorar.