Nesta sexta (29/01), é comemorado o Dia da Visibilidade Trans no Brasil. No entanto, para a atriz e jornalista Carol Marra — a primeira transexual brasileira a mudar o nome nos documentos oficiais —, não há o que comemorar. “Ainda estamos longe, muito longe do ideal”, diz ela, que fez a cirurgia de redesignação sexual há cinco anos.
A escolha de 29 de janeiro é porque, nesta data, no ano de 2004, foi a primeira vez que mulheres e homens trans e travestis se uniram-se e foram à Brasília lançar a campanha “Travesti e Respeito”. O ato, o primeiro em escala nacional, promoveu a cidadania entre essas pessoas no Congresso Nacional, com grande repercussão. “Com isso, saímos da invisibilidade, adquirimos voz e espaço”, diz ela, que vai estar na próxima novela das sete da TV Globo, “Quanto mais vida melhor”. O primeiro beijo trans na TV foi dado por ela na série “Romance Policial — Espinosa” (2015), do GNT.
Atualmente o assunto está em todos os lugares, no cinema, na TV (foi tema da primeira discussão do Big Brother Brasil, logo no segundo dia), na mídia e, principalmente, nas redes sociais.
Vocês chegaram lá?
De forma nenhuma. Ainda estamos longe, muito longe, de um ideal de respeito, igualdade e empatia. Caminhamos a passos lentos, mas, neste momento, não consigo nem perceber essa caminhada.
Acredita que o mundo tem andado pra trás?
Conquistamos espaço. Agora existimos; isso é fato, porque antes, num passado recente, nem isso. É importante frisar que é um espaço ainda pequeno e tímido, em uma sociedade extremamente heteronormativa, machista e muito preconceituosa.
Há o que comemorar no Dia da Visibilidade Trans? Pelo 12º ano, o Brasil foi eleito o país que mais matou trans em 2020.
Ainda não! Ainda não! Somos o país que, infelizmente, ainda ocupa o triste posto de onde mais se matam pessoas da comunidade LGBTQI no mundo. Os números são alarmantes: segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais, o Brasil ficou em 1º lugar no ranking dos assassinatos de pessoas trans no mundo, em 2020, com números acima da média. Foram 175 assassinatos, sem contabilizar a subnotificação e ausência de dados governamentais. Absurdo! E o buraco é mais embaixo ainda, porque muitos crimes, pasmem, não são nem investigados. O que quer dizer? Que eles nem sequer entram para as estatísticas; então, na certa, o número real é maior do que o divulgado.
É complexa a luta de uma mulher trans?
A luta é grande, diária, mas estar viva, trabalhando com dignidade, isso aos 40 anos, é motivo para se comemorar. Mas minha condição não reflete a realidade, já que a maioria nem sequer chega aos 30 anos.
O que diria para um jovem trans que está se descobrindo?
Que se informe muito e tenha força, e que não há nada errado com ele. Espero que um dia isso tudo, essas mortes sejam uma uma lembrança triste do passado. E que possamos, de fato, celebrar a diversidade da vida, livre de preconceitos e julgamentos.
Por Acyr Méra Júnior