Depois de 20 anos atuando no jornalismo e ser absoluta, no mundo da moda, como editora nas revistas Vogue e Glamour, Adriana Bechara acaba de abrir negócio em Lisboa, no mesmo dia em que praticamente todos os estabelecimentos fecharam as portas. Desde o último dia 15, Portugal vive seu segundo lockdown — cenário em e tudo fecha, menos aqueles que vendem bens essenciais, como medicamentos e alimentos. É o caso dela.
Adriana partiu do Brasil para Portugal, em 2018, com a intenção de abrir uma “guesthouse”, mas logo percebeu que o país, à época repleto de turistas, não carecia de mais uma ou de Airbnb. “Depois de anos observando os comportamentos de consumo e a indústria do luxo, fui estimulada pelas palestras do Carlos Ferreirinha, uma espécie de amigo que dá junto um passo mais ousado: criar um novo tipo de negócio, que vive do consumo de ocasião”, explica. O Wel Well, welcome e wellness center, mix de concierge, café e spa voltado para o viajante que fica órfão antes do check-in e depois do check-out no hotel ou no Airbnb, estava previsto para ser inaugurado em abril de 2020, mas, como tudo e todos, teve que ser repensado, revisto e readaptado ao novo momento.
O ponto, no bairro premium do Príncipe Real, em Lisboa, já tinha praticamente finalizado as obras quando surgiu a pandemia. “Fiquei paralisada, e muita gente me disse que o melhor seria desistir; mas eu não tinha plano B. No verão europeu, quando as medidas afrouxaram, tive a oportunidade de conhecer o carioca Mauro Passini, da Quinta do Saloio, um mix de mercado e delicatessen tradicional do Estoril”. Ao contrário da maioria, Mauro foi daqueles que estavam, digamos, do lado certo da moeda, e tinha se capitalizado no primeiro lockdown. Adriana se inspirou no modelo de Passini, que a orientou sobre alguns pontos cruciais, e abriu mais uma vertente do Wel Well, a mercearia gourmet.
Ela correu para adaptar o espaço, encontrar fornecedores e conhecer os processos e, de novo, ia abrir, quando voltaram as novas medidas restritivas. Só que, desta vez, não foi pega de surpresa. “Chego a acreditar que foi sincronicidade até: tudo está fechado, e nós estamos abertos; na verdade, é uma grande oportunidade”, reflete.
Mesmo assim, ela não desistiu do projeto inicial. Calculou um processo de abertura em fases: para março, estão previstos os lançamentos do café, com consultoria da chef Andrea Kaufmann, e da loja de roupas sustentáveis com curadoria da estilista Beatriz Losso. Para abril, as vertentes concierge e bem-estar entram em cena com banhos, massagens e aulas de yoga. “A ideia é que as pessoas em trânsito tenham um Wel Well por perto, sempre que precisem recarregar as energias. Leia energia como quiser: pode ser alimento ou acolhimento.” Se o próximo verão europeu não for cancelado, já temos aonde ir.