
Paraty: a cidade não comporta a multidão, cada vez maior, na Flip / Foto: Giancarlo Mecarelli (site paraty.com.br)
O que a Flip deixou? Que Paraty é linda, a gente já sabe; que muitos nomes nacionais e internacionais estão sempre lá, a gente já sabe; que acontecem debates maravilhosos, a gente já sabe; que é a maior feira de literatura do Brasil, a gente já sabe! O que ninguém sabe é o que fazer para “enxugar” a Flip – não me refiro à chuvarada que caiu, enchendo as ruas de água – de jeito nenhum! O problema é que a cidade não comporta mesmo aquela multidão. Chega-se a um bom restaurante e pede-se um prato que você gosta muito (precinhos iguais aos dos melhores de Paris ou do Rio, o que dá na mesma), e o garçom responde: “Durante a Flip não fazemos”. Hein?
Várias pousadas tinham lugares livres nessa 13ª edição, tanto pelo baixo orçamento de R$ 7,4 milhões (o menor em 10 anos), pelo show de abertura com um nome desconhecido (sem estrelas da MPB – como Gilberto Gil, no ano passado); pela previsão de chuva (os meteorologistas acertaram)… Imagina se nada disso tivesse acontecido, de Para-ty ou para mim ou para qualquer interessado em intelectuais, debates, poesia, não ia sobrar nada! Mal comparando, a multidão é equivalente a um carnaval fora de época ou São João, as festas mais lotadas do Nordeste. A Flip virou uma micareta!
Tudo deve valer para os intelectuais variados que ali passam quase uma semana, tanto quanto para o público que paga? Mesmo sabendo que não é confortável pra ninguém ver os pequenos índios precisando vender bugigangas pra viver ou os cantadores das ruas reclamando das gorjetas minguadas -“o que vai ser do resto do ano?”, pergunta um deles. Quase todos se comovem!
A frase de Joãosinho Trinta “quem gosta de pobreza é intelectual” deve esbarrar no limite da culpa e da sensibilidade de cada um. Nas ruas de lindas casas, encontram-se também muitos visitantes com conta bancária que poderiam resolver os problemas da cidade, que, aliás, metade das propinas da Lava-Jato botaria um fim. Opa, olha o pé numa poça d’água. De repente alguém de São Paulo cumprimenta os amigos com um hálito comprometedor e pergunta: “É verdade que aqui tem príncipe?”
Também acho ! Boa parte que vai pra lá,não está interessada nos livros, lançamentos, palestras etc. mas na “badalação” !