Washington Olivetto, o publicitário da sutileza (tinha o olhar naquilo que a maioria nem estava vendo), demonstrava generosidade infinita com todos os seus amigos. Talvez seu lado humano, que nem todo mundo conhece, seja muito maior que o profissional, que tanto elevou o Brasil. Se as qualidades individuais de Washington fossem mais coletivas, em que lugar estaríamos? Um brasileiro desses a gente nunca esquece!
E quem consegue definir Washington Olivetto? Aqui, como uma recordação, uma das últimas entrevistas desse grandioso publicitário morto neste domingo (13/10):
Ninguém aguenta mais dizer que Washington Olivetto está entre os publicitários mais reconhecidos e premiados do mundo. Pulando essa parte, o próprio Washington disse recentemente que as semanas em Londres, onde mora, passaram a ter três dias: ontem, hoje e amanhã.
Às vezes, durante esta pandemia, ele caminha uma média de 7 km por dia. Aproveitando essa endorfina, pedimos ao Chairman da WMcCann que respondesse a essa entrevista de perguntas fixas, tentando dar uma graça ao fim de semana nosso e de quem a ler.
UMA LOUCURA: sempre parti do princípio de que a aventura pode ser louca desde que o aventureiro seja lúcido. Agindo assim, transformei gestos, aparentemente de loucura quando cometidos, em fatos que, com o passar do tempo, começaram a ser vistos como planejados e de bom-senso.
UMA ROUBADA: tenho um bom detector intuitivo de roubadas e, na maioria das vezes, soube fugir delas a tempo. As roubadas em que entrei aconteceram por causa de um dos meus muitos defeitos de fábrica. Apesar de já ter tido tempo suficiente de vida pra isso, ainda não consegui aprender a dizer não.
UM PORRE: gente burra.
UMA FRUSTRAÇÃO: poderia dizer que não ter 35 anos de idade a menos e 350 milhões de libras a mais é a minha frustração, mas, na verdade, estaria dizendo isso para fazer graça. Estou contente com a idade que tenho e com a vida que levo – não preciso nem mais, nem menos.
UM APAGÃO: acabo de ter um. Esqueci.
UMA SÍNDROME: mania de organizar as coisas, manter tudo bem organizadinho. Meus filhos (Antônia e Theo) dizem que tenho TOC, mas não tenho, não; no máximo, bato na trave dele. Eles é que são muito bagunceiros.
UM INSUCESSO: não posso me queixar — a vida tem sido muito generosa comigo. Meus alguns insucessos pessoais e profissionais foram amplamente superados pelos meus muitos sucessos pessoais e profissionais. Aliás, nunca separei o pessoal do profissional. Na minha vida, tudo sempre se misturou e continua misturando-se.
UM MEDO: nasci misteriosamente desprovido desse sentimento, o que não considero um mérito, apenas uma característica da minha personalidade e formação. Não tenho medos, mas atualmente tenho um temor: que o Brasil continue a retroceder, como vem retrocedendo. Isso me assusta.
UMA IDEIA FIXA: mais do que uma ideia fixa, uma obsessão exercida com ansiedade descabida: a loucura por fazer o novo, de novo, de novo e de novo. E de vez em quando, ainda, pretensiosamente, querer reinventar o velho.
UM DEFEITO: grande, nenhum; mas pequenos numa quantidade que, se somados, dão um defeito de proporções gigantescas. Ainda bem que eu disfarço bem cada um desses pequenos defeitos.
UM DESPRAZER: imaginar que todo mundo deve ser perfeccionista como eu e depois me achar injusto e incorreto por pensar assim. Melhor deixar cada um na sua.
UMA PARANOIA: não tenho paranoias e não gosto de paranoicos; na verdade, sou óbvio e objetivo. Mesmo sendo extremamente intuitivo e aparentemente impulsivo, sempre penso antes e executo depois — característica típica dos redatores, coisa que eu nunca deixei de ser na minha vida.