A ilha do Japão, cenário da novela “Mania de Você” (de João Emanuel Carneiro), sempre fez parte da minha vida. Meu pai (Hugo Lobão) a comprou de um tio, irmão de minha mãe, mesmo antes de eles terem se conhecido. Um belo dia, ele a convidou para conhecer a ilha que ele tinha comprado, e bingo: era a ilha do Japão. Ali, vivi grande parte da minha vida, ia e voltava para a escola todos os dias. Meu pai vendeu a ilha em 2013 e, seis anos depois, em 2019, fiz minha entrada na profissão em que trabalho hoje: sou corretora de imóveis de alto padrão. E, certa vez, intermediei a locação da ilha para gravação de uma novela e, assim, continuamos nossa relação: eu e a ilha. É muito legal, às vezes me emociona, é maravilhoso ver a ilha e a casa onde cresci colocada de uma maneira tão bonita como na novela. Acho muito legal essa sensação de eu-cresci-aí-de-verdade.
Também adoro que estejam apresentando Angra de uma maneira tão bacana. Passei minha infância pulando nas pedras daquele lugar. Como boa filha única, queria a casa sempre cheia, e era o que acontecia. Meus pais, moradores de Ipanema, meu pai dono de uma financeira, largaram tudo no Rio e decidiram viver em Angra. Também tinham muitos amigos. A casa foi ficando cada vez mais cheia, até o dia que um deles, o Boni, sugeriu que ele fizesse disso um negócio. Resolveu-se então abrir um bar em uma outra ilha que tínhamos. Sim, tínhamos três ilhas na época: ilha do Japão, onde morávamos; a ilha do Ouriço, onde foi aberto o bar; e a ilha do Cavaco, que ainda tenho até hoje.
Daí em diante, todos passaram a frequentar o bar e não a mais nossa casa. Além do Boni, outros amigos, como Ivo Pitanguy (cirurgião plástico) e João Havelange (ex-presidente da Fifa), eram os principais frequentadores.
Ao longo de 35 anos, permanecemos e fizemos história em uma Angra com glamour e requinte. Pra cá, vinham príncipes, reis, atores mundialmente famosos, a nata da sociedade não só do Brasil, mas também do exterior.
Continuo colhendo os frutos desse tempo de sucesso da ilha do Ouriço, onde também tínhamos lojas, entre elas, de decoração. Alguns produtos são tão característicos que, quando os vejo, reconheço. Às vezes, sou chamada pra fazer alguma avaliação em uma casa que eu não conhecia e identifico as peças. Quando falo no Ouriço, as pessoas se desmancham. Realmente foi uma época que não temos igual atualmente; isso ainda me abre muitas portas. Eu, de verdade, não consigo me lembrar de todos que frequentavam e de todos os clientes das lojas. Eram, em média, 700 por dia passando por ali em fins de semana. Sim, 700 pessoas por dia!
Hoje trabalho com esse público que sempre frequentou não só o bar como também nossa casa. Não sou uma corretora que quer vender a qualquer custo — procuro trazer equilíbrio tanto para quem está buscando o imóvel como para quem está vendendo.
Entendo bem sobre o funcionamento e logística das ilhas por já ter vivido nelas, além de conhecer a maioria de seus proprietários ou seus filhos.
Amo fazer o que faço, acredito que Angra é um dos lugares mais bonitos do mundo. Sou apaixonada em fazer as pessoas realizarem sonhos e serem felizes. Minha oração é para que Deus me ofereça clientes e proprietários que me tragam paz. E, claro, que sejam felizes. Tenho recebido isso.
Angra é um paraíso e vai continuar a ser sempre. Suas praias, suas ilhas, a água calma e cristalina encantam a todos. E está em constante mudança e renovação. Temos casas lindíssimas, das mais tradicionais às mais modernas e exóticas, e condomínios sensacionais com ótimos vizinhos.
A seguir, o exemplo da própria ilha do Japão: quando era minha casa, ela tinha uma arquitetura a que me refiro como de Angra antiga, mais rústica e caiçara, com muito sapê, muita madeira. Meu arquiteto favorito sempre foi o querido Cláudio Bernardes. E hoje temos casas seguindo os novos padrões de arquitetura modernos, também lindos.
A transformação que tivemos na ilha do Japão mostra bem isso. A casa virou ultramoderna, mas com a mesma estrutura de construção que tínhamos, agora, com painéis solares, Internet e mais uma infinidade de tratamentos ecologicamente corretos e sustentáveis, além de uma equipe de apoio e caseiros sensacionais. É uma das casas onde mais gosto de trabalhar: aquela que foi a minha casa.
Cada canto da ilha foi aproveitado para o nascer ou o pôr do sol — para quem gosta de mar ou quem gosta de ficar no meio da mata. A casa tem privacidade, já que fica no topo da ilha, ao mesmo tempo que não é tão alta a ponto de cansar para chegar no alto.
Ela tem cenários naturais lindos, inclusive debaixo d’agua, na praia, nas cabanas espalhadas pela ilha. Só quem pisa ali consegue perceber a paz que ela passa. Eu tenho mania é dessa ilha.
Ludmila Lobão é formada em Moda e Marketing, trabalha como corretora de imóveis alto padrão, com foco em Angra, principalmente. Atua também em Paraty, Búzios e Rio.