João Diamante, do Dois de Fevereiro /Foto: Reprodução
A despeito de parecer óbvio, havia uma ansiedade sobre a ida de João Diamante, autor de receitas que trazem ancestralidade e sabores africanos, para ocupar algum restaurante na Pequena África carioca, o que, enfim, aconteceu recentemente. Depois de cozinhar na Torre Eiffel, abrir casas e iniciar projetos na Zona Norte e rodar o mundo, o chef do Andaraí assumiu o Dois de Fevereiro, no furdunço maravilhosamente maravilhoso do Largo da Prainha. O ponto continua na aba do empresário e chef Raphael Vidal, mas o toque culinário é do João, que me contou: pretende levar para lá o seu Diamante, restaurante que ocupa um imóvel na Tijuca.
“Celebro minha ancestralidade como fundamento na cozinha de origem do Dois de Fevereiro, onde uso ingredientes originários e regionais, que se encontram tanto no Rio quanto na Bahia, como o azeite de dendê e o leite de coco”, me disse Diamante, que vem desfilando ali: casquinha de sardinha (R$ 21,90); miniacarajés com caruru, vatapá e camarão (R$ 35,); coxinha de bobó (R$ 35); bolinho de joelho de porco (R$ 32); croquete de rabada (R$ 33); e uma leva de moquecas, todas com banana-da-terra e lascas de coco, acompanhadas de arroz, farofa de dendê e pirão (R$ 45) — um mix de sabores intercontinentais, como pede aquele território sagrado.
O bobó de camarão vai com arroz e farofa de dendê (R$ 59) e o baião de dois, com carne-seca desfiada, nata, linguiça, toucinho, queijo coalho e ovo estalado (R$ 40). Alguns processos mais elaborados também são feitos por João na casa, como as salgas das carnes, incluindo pimenta do reino leite em pó, refrigeradas por 72h a 5º C. Uma delas é a carne de sol de alcatra com maminha, que chega à mesa com arroz, aipim manteiga, queijo coalho e cuscuz (R$ 47).
No fim de semana, tem feijoada com maxixe, abóbora, quiabo, costelinha, paio, carne-seca, arroz, farofa da casa, torresmo, couve e laranja (R$ 45). Galinha com quiabo e manjubinha frita com chope? Tem também. “Quero ajudar a trazer felicidade, através do turismo de gastronomia ao local onde houve muita tristeza”, finaliza João, escalado para a 13ª edição do Festival Macaé de Cultura e Gastronomia, onde vai ensinar seu bolo gelado de coco com sorvete de dendê. Outra iguaria do seu, agora, Dois de Fevereiro.
Partiu Região dos Lagos, com Diamante?
Além de Macaé, Cabo Frio (a 155km do Rio), vai ferver no fim de semana, com um festival gastronômico. São motivos para arrumar as malas e preparar o estômago para o banquete que será servido em Cabo Frio e Macaé.
O Festival Sabores de Cabo Frio está completando dez anos e, na edição especial de aniversário, que começa nesta sexta-feira, 06/09 (dia do sexo!!!), reúne mais de 60 casas, que criaram pratos (pequena porção) a preços fixos inspirados no tema “O Sal da Terra”. Entradas e petiscos a R$ 34; pratos principais e sanduíches a R$ 39; e sobremesas a R$ 24.
Fora dos bares e restaurantes, a programação traz um espaço gastronômico no Bairro da Passagem e rodadas de conversas no Charitas, com escritores, historiadores e personalidades ligadas à cultura do sal. Afinal, é na cidade onde está a fábrica da Sal Cisne, a única remanescente do Império, hoje produtora de 20 mil toneladas do produto por mês, empregando cerca de 500 funcionários da região. O Rio de Janeiro é o segundo estado, atrás do Rio Grande do Norte, que mais produz sal no Brasil.
Destaque para a salicórnia, uma erva que nasce no sal e vem sendo usada por chefs por aí afora. O “sal verde ou aspargo do mar” marca presença nas receitas dos pratos com peixes criados em restaurantes, como o José, que traz “Raiz do Oceano” (peixe grelhado, legumes tostados, creme de tucupi e salicórnia); Mar, com “Filé Salineiro” (filé de peixe com crosta de tapioca e aroeira, purê de batata defumada com geleia de pitanga e salicórnia) e Rita d’Cássia Gastronomia, com “Gecay” (filé de peixe, corado em sal de aroeira líquida, purê de abóbora cabotiá, tartar de legumes com salicórnia).
Do time de chefs escalados, atenção para Corine Muller, do Delírios Restaurante; Cláudio Peters, do Arcos do Canal; Nataly Garcia, do Paradiso Peró, e Miriam Azevedo, da Brigaderia da Vovó.
Na vizinha Macaé (a 190km do Rio), a festa ocupa a Praia dos Cavaleiros, sob o slogan “terra, sol e mar”. São 26 restaurantes locais (todos associados ao Polo Gastronômico de Macaé), também com pratos exclusivos e valores fixos: R$ 40.
Yashi — arroz de camarão com peixe empanado; moqueca de banana da terra; costelinha suína temperada com dry rub e assada em baixa temperatura; torta basca com calda de chocolate e camarão com polvo grelhados na manteiga de alho com ervas frescas e vinho branco, acompanhados de musseline de aipim, alho-poró e leite de coco. Tudo isso e um pouco mais…
Além de João Diamante (Dois de Fevereiro, na Pequena África), o sommelier Paulo Nicolay cai falar de Vinhos italianos da Toscana; Elia Schramm (Babbo Osteria) vai levar seu arroz frito de camarão; o mixologista Igor Renovato (Suru Bar), junto com a cachaçaria 7 Engenhos, vai preparar coquetelaria popular brasileira (13/09 é o Dia da Cachaça) e (é ele!) Danilo Parah (Rudá) num papo sobre “a nova cozinha: como reinventar os clássicos”. Além disso, Henrique Rossanelli (Absurda Confeitaria) mostra os segredos do seu quindim de maracujá; Monique Gabiatti (Polvo Bar e Belisco) o da paella de polvo e, a revelação carioca da comida brasileira e ancestral Vanessa Rocha (Maria e o Boi), do cordeiro Cabra da Peste. Que nome ótimo para encarar o fim de semana ao redor da boa mesa e terminar este texto arretado para pegar a estrada. Partiu estrada?