Quando idealizei o evento “Adote um Pet Gauchinho”, com os cães resgatados nas enchentes do Rio Grande do Sul, nunca imaginei as montanhas que teria que escalar, nem os insanos e diários obstáculos que enfrentaria. Nunca havia também me engajado a alguma ONG de proteção animal. Apenas decidi usar minhas ferramentas de trabalho para tirar o maior número possível de cachorros dos abrigos de lá, porque me sensibilizei por estarem acorrentados, em minibaias e com frio, depois de tudo que passaram. Aquelas cenas me tiraram o sono.
Foram intermináveis madrugadas, trabalhadas na linha de frente de duas logísticas de guerra para embarcá-los; a cada minuto, traziam um novo imprevisto, incluindo cancelamento de voo, grandes atrasos, reprogramação de roteiros e de equipes inteiras. Recorri à imprensa e ao celular do governador Eduardo Leite em plena noite, que gentilmente me respondeu logo depois, sem me conhecer. Incomodei oficiais da Aeronáutica a quem sou muito grata; pedi apoio do Exército e Bombeiros, sem sucesso; enfrentei obstáculos e necessariamente algumas poucas pessoas, mas, sobretudo conheci anjos que jamais pensei existirem!
Contratei um time de adolescentes, aos quais chamei de heróis. Juntos desembarcamos duas vezes os cachorros e os levamos pelas madrugadas adentro, para cinco hotéis caninos (de verdadeiros empresários-anjos que nos ajudaram para o descanso deles), nos certificando juntos de que todos haviam chegado bem, depois de transportados naquelas caixas de segurança, desesperadamente dando água, ração e um pouco de paz.
Taquicardia, dedicação incansável, olhar colado em Jesus, para tudo dar certo, dentro daquele deslocamento complexo e as palavras que guardo do meu pai, Nacle: “Quando você achar que não aguenta mais, ainda aguenta mais três vezes!”
Conseguimos! Realizamos todos os eventos de adoção em dois fins de semana, simultaneamente, em sete shoppings do Rio, onde enxerguei muito amor no rosto de famílias adotantes do Leblon a São João de Meriti. Vi famílias dividirem o que têm para recebê-los, e as abençoava no meu coração. Conheci pessoas maravilhosas, que não quero nunca mais perder de vista e um comboio de motoristas pacientes, que me atendeu com ônibus, vans e caminhões, até 4h da manhã, nas duas semanas, para termos certeza de que todos os cachorrinhos chegariam bem.
Todos os 86 cachorros foram bem adotados, com critérios importantes, garantindo lares amorosos e seguros!
Essa vivência, que foi um presente de Deus na minha vida, se resume em três palavras essenciais pra mim: fé, perseverança e amor. Obrigada a todos que fizeram parte desse projeto, principalmente minha filha e sócia, Victória Gibran, que cuidou de toda a realização do evento e prospecção de parceiros, Grupo Allos de shoppings Centers que imediatamente nos apoiou, Arcanimal (plataforma que viabiliza adoções dos animais do RS), Grupo de Resposta a Animais em Desastres (GRAD), Força Aérea Brasileira (FAB) e à imprensa (sempre tão parceira) que deu voz ao evento!
Hoje, graças à ajuda de inúmeras pessoas que se uniram, dezenas de cachorrinhos estão com boas famílias e bem cuidados, exatamente como desejei! Termino lembrando que existem ainda milhares de cachorros acorrentados em abrigos no RS e que adotar é um ato de responsabilidade por uma vida.
Quem ainda quiser adotar os pets das enchentes da cidade de Canoas, sugiro o @projeto.arcanimal. E como os animais do Rio também precisam de ajuda, pra adotar na nossa cidade, indico a @apaixonadosagostinho que, além de realizar feiras mensais de adoção, ainda oferece tratamentos veterinários a preços populares.
Patrícia Sallum é jornalista. Há mais de 20 anos, ela está à frente da assessoria de comunicação, que tem seu nome. Atende desde indústrias do setor alimentício, IPO’s de grandes grupos, redes de gastronomia e de beleza, e especialmente a área médica. / Foto: Denise Leão