A Estatística, definitivamente, não é uma ciência exata.
Pegue uma caixa com 10 bombons. Qual a probabilidade de você abrir essa caixa e, sem olhar, tirar lá de dentro o bombom com recheio de ameixa, o seu favorito?
Em teoria, 1/10 – ou seja, 10%. Na prática, 0%.
Nunca me aconteceu, jamais me acontecerá. Nem a mim, nem a você, nem a ninguém.
E qual a probabilidade de tirar o crocante (aquele horrível, que você detesta, eu detesto e do qual não é possível que alguém goste)? Em teoria, os mesmos 10%. Na prática, de 50% para cima, tendendo a 99,9%.
Porém, se você é do tipo que aprecia coentro, reggaeton, segunda-feira, vizinho barulhento, relacionamento com alguém de Escorpião, espinha interna no nariz e — por incrível que pareça — bombom crocante, as probabilidades se invertem.
Isso porque o cálculo das probabilidades reais (não as especulativas, de que trata a Estatística) depende de uma variável desprezada pelos estudiosos: a intencionalidade.
Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação… não rola. Se é para ferrar com a vida de todo mundo, olhaí, acontecendo todo dia.
Se você mora no Alto da Boa Vista, há de reclamar nunca passa ônibus. Se você mora, não precisa de ônibus e tem que subir de carro pela estrada do Alto, não importa o dia ou a hora, haverá sempre um ônibus na sua frente, retardando em pelo menos 59 minutos o trajeto.
Aquela história de que o universo conspira a seu favor é conversa mole para vender livro de autoajuda. O universo tem um departamento completo (com estagiários, secretária executiva, RH, CEO e pessoal de TI) só para garantir que a Estatística não funcione a seu favor.
Se você está de férias no Rio (ou fez chapinha), 18% de probabilidade de chuva significam chuva na certa. Se plantou feijão e milho, e precisa de uma ajuda de São Pedro, 82% de probabilidade de chuva significam céu nublado e olhe lá.
Isso vale também para análise combinatória. De quantas maneiras você pode combinar seis pés de meia, pertencentes a três pares diferentes? Não importa o que digam as fórmulas — C(n, k) = n! / (k! * (n – k)!), P(n, k) = n! / (n – k)! etc – o número de combinações será infinito, e o tempo para encontrar duas do mesmo modelo será inversamente proporcional àquele de que você dispõe para calçar as benditas meias, botar os sapatos, pegar o elevador e chegar até o Uber — que, claro já terá cancelado a corrida, ido embora e pendurado uma multa na sua conta.
Os mais afoitos dirão que se trata simplesmente da Lei de Murphy aplicada à coleta, análise e interpretação de dados. Né não. Há algo de quântico aí, similar à Teoria do Observador: o mero desejo de que algo aconteça pode alterar o acontecimento. Mas nunca a favor de quem deseja.
O que leva à inevitável conclusão de que a Estatística seja de Humanas.
Quer uma prova concreta? Tente atravessar, sem saber nadar, um rio cuja profundidade média seja de 1,5m e depois me diga. Sim, pode ser através de um centro espírita.