Embora exista um movimento de explante de silicone no Brasil, observado nos últimos anos (pouco mais de 29 mil em 2022), a prótese de mama ainda é o segundo procedimento mais procurado, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP). Pela última pesquisa, divulgada em 2022, foram 243.923 mil cirurgias do tipo, atrás apenas da lipoaspiração (275 mil).
Os implantes existem desde 1962, passando por constantes processos de melhorias; hoje, em sua sexta geração, apresentam índices de ruptura muito menores. Mesmo assim, você já deve ter ouvido sobre “encapsulamento” da prótese ou “contratura capsular” — o índice é baixo, mas acontece.
Como exemplo, nas décadas de 1980 e 1990, na terceira geração dos implantes, o raro era encontrar um caso que não tivesse alguma contratura. Em algum momento, alguém resolveu chamá-la de “rejeição”, o termo mais disseminado entre as pacientes e cirurgiões plásticos.
Com a evolução dos materiais da prótese, o tempo de vida útil do produto dentro do corpo humano também aumentou. Há próteses que podem ser mantidas, sem nenhuma substituição, pelo resto da vida; com isso, a troca é cada vez mais rara, embora seja indicada em situações específicas. O encapsulamento é um exemplo quando acontece o endurecimento da cápsula ao redor da prótese — é o caso da empresária Carla Benchimol, que teve não um, mas dois encapsulamentos. Conversamos com Carla, sob orientação do cirurgião Noel Lima, que a operou.
1 – Como você descobriu que existia o encapsulamento de prótese e que era o seu caso? Como reagiu e qual foi o processo de entendimento?
Já é a segunda vez que minha prótese encapsula; tenho amigas que passaram por isso, razão de eu ter passado a achar o assunto muito interessante, deve ser falado. A primeira durou apenas dois anos; esta, agora, aguentou 20 anos arrastados. O que senti de primeira foi um endurecimento da mama, que, com o tempo, causava desconforto até para dormir. Fiquei calma porque sei que o procedimento é tranquilo, indolor, apenas com um pós-peratório chato, como todos. No meu caso, não fiz ressonância, apenas ultrassom de rotina.
2 – Você estava com a sua há 20 anos. Nesse tempo, algum problema, digamos, menor? Teve receio quando descobriu?
Não tive nenhum problema nesses anos, apenas felicidade! Muito menos, receio ao perceber que estava encapsulando. Só queria resolver o problema para voltar a me sentir bem e confortável. A tabela internacional de encapsulamento, chamada Baker, vai de 1 a 4. O meu encapsulamento era Baker 3, ou seja, quase o nível mais alto, proporcional ao desconforto.
3 – O que nós, de fora, ouvimos ou lemos é que existem os tradicionais 10 anos para a troca, mas que a tecnologia trouxe próteses que podem ser mantidas, sem nenhuma substituição, por toda a vida. Como isso acontece e como evitar?
Conversei com Noel Lima, e ele me disse: “Não existe um prazo predeterminado para a troca de prótese, muito menos é verdadeira essa noção que alguns cirurgiões dizem ter de trocar depois de 10 anos. Você só precisa trocar uma prótese se ela começar a endurecer e em um nível que incomode você, ou que altere a estética da mama. Muitas vezes, o encapsulamento, que é um endurecimento, é em 4 graus. Quando é no grau 1, ela fica um pouco mais dura, mas não atrapalha em nada, não incomoda e não muda a aparência estética. Então, a prótese só tem que ser trocada se o encapsulamento trouxer transtorno ou alteração estética para o paciente. E é muito seguro você fazer, refazer a cirurgia e trocar a prótese. Óbvio: para tirar uma prótese, para montar a mama, é preciso colocar uma outra prótese. Hoje em dia, até existe a possibilidade, dependendo de cada caso, de injetar gordura para substituir a prótese, mas nunca o resultado é o mesmo — isso tem que ser avaliado com o cirurgião. Para descobrir como a prótese está encapsulada, o primeiro sinal é o sintoma que a paciente sente: que está duro, que está incomodando quando deita de bruços, por exemplo, ou quando vai abraçar alguém e sente que tem duas coisas duras na frente, como se fossem pedras. Então, esses são os casos em que você faria uma troca. E para determinar se isso está acontecendo, tem que fazer uma ressonância magnética, que é considerado o exame padrão ouro. Inclusive, com esse resultado positivo do exame, você pode pedir autorização para o seu plano de saúde cobrir essa cirurgia; ou seja, o plano vai cobrir a parte hospitalar, uma parte da equipe médica, de acordo com o que você tem estipulado no plano. A única coisa que o plano não faz é pagar uma prótese nova, pois, na verdade, vai estar dando autorização para você retirar a prótese.”
4. Faria tudo de novo?
Sabemos que toda cirurgia tem um risco: até uma unha encravada pode ser muito sério, porém faria de novo quantas vezes fossem necessárias, mas espero que dure um bom tempo. O melhor, no final, é poder usar e descobrir o sutiã desenvolvido pelo meu médico Noel Lima, que deveria ganhar um prêmio de melhor do mundo. Foi desenvolvido por ele e é fabricado em São Paulo, com uma renda especial e em diversas cores. Veste perfeitamente, além de nos fazer sentir sexy e seguras. Nós, as pacientes, somos chamadas de “Limetes”.
5 – O que é pior e o que é melhor numa intervenção como essa?
O melhor é ter uma sensação maravilhosa de alívio, sem aquela prótese enrijecida que incomoda bastante. E o pior é ter que dormir de barriga pra cima por um mês, principalmente para quem sofre de insônia como eu, e não poder fazer exercício nem dirigir por 30 dias.
6 – Qualquer pessoa está sujeita a passar por essa experiência, ou varia de perfil, de idade, de gênero de vida?
O Noel me disse que qualquer pessoa que coloca prótese está sujeita a isso. A prótese de poliuretano, a que eu uso, tem um índice de encapsulamento muito baixo (de 1 a 2%); a texturizada é praticamente o dobro disso (de 2 a 4%). Mas, mesmo tendo esse índice muito baixo, de 1 a 2%, é possível que ocorra, porque o índice nunca é zero. Então, existe, sim, sempre uma possibilidade de haver uma contratura que pode ocorrer com 2, 3, 5, 10, 15 anos. Não tem prazo específico. A grande vantagem nesse tipo de cirurgia é sabermos que o índice de encapsulamento é extremamente baixo.
7 – A não troca de uma prótese dessas pode ocasionar o quê?
Não seria uma cirurgia de emergência, ou nada parecido. Quem consegue conviver com os sintomas que já falei antes, pode seguir a vida desconfortavelmente. De qualquer forma, toda cápsula retirada vai para a biópsia, obrigatoriamente.