Hoje, depois de anos de luta e com muito orgulho, posso dizer que sou cientista, doutoranda em Saúde Pública e pós-graduada em Neurociência, com especialização na Doença de Alzheimer. No entanto, essa minha trajetória não foi apenas uma escolha profissional — foi uma resposta ao desafio mais doloroso que já enfrentei na vida: o diagnóstico de Alzheimer da minha mãe, quando ela tinha apenas 60 anos.
Quando minha mãe recebeu o diagnóstico, o impacto foi devastador. Eu imaginava que aquilo significava o fim, como se estivesse vivendo um velório com minha mãe ainda viva. A angústia e a incerteza tomaram conta de mim. Não conseguia aceitar a ideia de perder a pessoa que me criou, que sempre foi minha fonte de apoio e inspiração. Eu sabia que não obteria respostas satisfatórias se não as buscasse por conta própria. Foi então que tomei uma decisão que mudaria o curso da minha vida: me matriculei em uma pós-graduação em Neurociência.
Os primeiros anos de estudo foram desafiadores. Mergulhei em livros, artigos científicos e participei de conferências para entender melhor a doença que estava roubando minha mãe de mim. Durante esse período, descobri que, embora o Alzheimer ainda não tenha cura, existem maneiras de retardar seus efeitos e proporcionar uma melhor qualidade de vida para os pacientes e suas famílias. Aprendi sobre a importância da estimulação cognitiva, da atividade física regular e de uma dieta equilibrada, rica em antioxidantes e nutrientes que protegem o cérebro.
Uma das descobertas mais significativas foi a importância do apoio emocional e da criação de um ambiente seguro e estimulante para o paciente. Envolver a pessoa em atividades que ela aprecia, manter uma rotina consistente e assegurar um espaço tranquilo e familiar podem fazer uma grande diferença na sua qualidade de vida. Também compreendi a relevância do diagnóstico precoce e de um acompanhamento multidisciplinar, incluindo neurologistas, psicólogos, terapeutas ocupacionais e assistentes sociais.
Minha experiência pessoal e minha formação acadêmica me levaram a atuar junto a um público específico. Eu tinha uma conta no Instagram, onde falava apenas pra mulheres, sobre beleza e cuidados da pele com produtos naturais. Com o tempo, percebi que havia uma grande necessidade de informação e apoio entre mulheres na faixa dos 40 e 50 anos sobre o Alzheimer. Muitas dessas mulheres estão preocupadas com a prevenção da doença, tanto para si mesmas quanto para seus pais.
Hoje, dedico parte do meu trabalho a ajudar essas mulheres a entenderem melhor a doença e a adotarem medidas preventivas. Compartilho informações sobre a importância de manter a mente ativa através da leitura, de jogos de raciocínio, de novos aprendizados e da socialização. Também reforço a relevância de práticas, como o exercício físico regular e uma alimentação balanceada, rica em frutas, vegetais, peixes e grãos integrais.
Uma mudança significativa na minha vida foi perceber a importância do autocuidado e do cuidado com os outros. A jornada com minha mãe me ensinou a valorizar cada momento e a importância de estar presente. Aprendi que, embora a doença traga muitos desafios, também pode fortalecer os laços familiares e nos ensinar a amar de maneiras mais profundas e significativas.
Gostaria de deixar uma mensagem de esperança para o Dia Mundial do Alzheimer (21/9). Apesar dos desafios e das dificuldades, é possível encontrar formas de lidar com o Alzheimer e melhorar a qualidade de vida daqueles que amamos. Busquem informação, apoio e não hesitem em procurar ajuda profissional. Juntos, podemos enfrentar o Alzheimer com força, resiliência e amor. Essa é a minha história, e espero que ela possa inspirar e apoiar aqueles que estão passando por situações semelhantes. O caminho pode ser difícil, mas, com conhecimento e dedicação, podemos fazer a diferença na vida de quem amamos.
Nesta jornada de estudos e conhecimento, já estou lançando meu segundo livro, desta vez intitulado ‘Alzheimer: Um Manual Essencial para Mulheres’, focado em dicas de prevenção para mulheres acima dos 50 anos. Precisamos modificar a ideia que vem à cabeça quando falamos em Alzheimer: a de senhorinhas de cabelos brancos. Na verdade, a doença começa a se desenvolver cerca de 10, até 20 anos antes de se manifestar de fato; por isso, é preciso focar na prevenção. O foco tem que ser falar de mulheres na faixa dos 50 e poucos anos, como a Jennifer Lopez. São essas que têm que estar ativas e se cuidando para evitar desenvolver a doença com o avançar dos anos. No que se refere aos cuidados, alguns dos principais são alimentação adequada, atividade física (principalmente aeróbica) e sono de qualidade. O transtorno degenerativo afeta quase duas vezes mais mulheres do que os homens, e sua incidência é superior à do câncer de mama. Portanto, nós, mulheres, temos que ficar especialmente atentas e nos cuidando.
Rosangela Haydem é pós-graduada em Neurociência e doutoranda em Saúde Pública pela Fundação Universitária Ibero-americana na Espanha.