Tenho 32 anos e estou grávida pela primeira vez, de 8 meses. Por aqui, tem sido uma jornada bem gostosa e livre de intercorrências ou sintomas que podem deixar esse contexto um tanto mais desconfortável. Essa seria uma pequena introdução, trazendo o lugar de onde eu falo hoje, mas existem várias outras pecinhas que compõem esse lugar. Uma delas sempre foi o exercício físico. E por que ele não iria continuar me compondo, neste momento em que várias outras peças entram em cena?
Essa não é uma reflexão sobre os “benefícios do exercício físico na gravidez” – esse não é o meu papel. Mas pode ser um convite à reflexão sobre o que mais o exercício pode fazer por você em um momento como o que vivo hoje. Não deixo de treinar, é importante pra mim e para o meu bebê. Claro que, com direcionamento/acompanhamento médico e respeitando o corpo e tudo de diferente que acontece com ele para gerar uma vida.
O exercício, para mim, sempre me fez me sentir “viva”. E não falo isso como alguém radical, mas sim como alguém que acorda arrastada, com preguiça, mas fica feliz depois que vai, sabe? E, assim, ele foi conquistando um espaço importante para o meu equilíbrio no dia a dia.
E é aí que eu chego aonde me toca: para além de ser importante ou qualquer outra questão que eu confesso não me aprofundar tanto no detalhe, eu entendo que ele me traz equilíbrio e um senso de “eu” que me cai bem neste momento em que eu viro “nós”. Manter uma parte da rotina da Duda que me é familiar quando, além da vida lá fora, cresce uma vida aqui dentro, é bem gostoso. Eu me sinto… eu. E é nessa hora que eu sou tão “eu”, que eu sou mais “nós”.
De repente eu me descobri insegura com o exercício que eu fazia todo dia, porque tem mais alguém aqui, e eu precisei mudar. Tudo certo! O nível de esforço muda. De repente, acordar no primeiro trimestre para ir à academia ficou mais arrastado: uma hora virou 20 minutos. E aí as semanas passaram, e ela voltou a ser uma hora. E, às vezes, vira 20 minutos (tudo bem!). Mas esse tempinho segue ali (quase) todo dia. De repente o relógio voltou para o pulso, e o desafio passou a ser manter o batimento cardíaco até 140 bpm, por recomendação médica. A aula agitada virou um bate-papo com ele de “opa, filho, vamos devagar agora!”. E o dia da corrida virou uma caminhada ao ar livre com uma conversa interminável, comigo, e com ele. Mas a sensação do meu “eu” de dever cumprido quando acaba continua igualzinha àquela de quando eu me obrigava a ir pela manhã, em um dia corrido, e que me acompanha há mais de duas décadas.
Minha psicóloga me disse uma vez como é diferente para a mulher seguir vivendo a vida aqui “fora” (responsabilidades, trabalho, rotina) com tanta coisa acontecendo “dentro”. E não é que nesses 20/30/40 minutos diários a vida aqui fora e aqui dentro coexistem na minha consciência, ao mesmo tempo? Entre uma música muito boa e uma olhada para o batimento no relógio, uma caminhada em frente ao clube aonde eu ia com meu avô e uma lágrima que sai sem perceber e uma musculação com foco nas costas — que vão doer com o peso na barriga — o Antônio me habita mais ainda, e eu lembro que, agora, sou nós. E aí vem um chutinho de vez em quando, ou eu cruzo no meio da academia com olhares empáticos e saudosos de quem viveu esse tempo, que já virou outro. E que lindo despertar isso por aí!
Com você, isso pode vir de um mergulho diário no mar, um almoço na sexta com o pessoal do trabalho, um passeio rotineiro com uma amiga pelo shopping ou qualquer outra peça que te componha e já te acompanhe ao longo da vida, mesmo que o cardápio mude, ou a roupa não caiba mais. Comigo, isso veio do exercício físico. Curtindo a vida aqui fora e a que cresce aqui dentro.
Dizem os especialistas que o exercício físico, como o aeróbico e a musculação, é ótimo para a mobilidade, circulação, hormônios, para fortalecer os músculos, evitando as dores com o pesinho extra que carregamos na gravidez, para o meu docinho à tarde e para o Antônio crescer saudável. Ele alivia ou previne diversos sintomas normais, sobretudo na reta final… Para mim, ele é um carinho no meu “eu”, que agora virou “nós”.
Maria Eduarda Cota, a Duda, é jornalista, pós-graduada em Psicologia Junguiana e executiva de contas na agência Out of Office. É praticante de Muay Thai há 15 anos e apaixonada por exercício físico. Em alguns dias, mãe do Antônio.